Amplia-se o esquema de corrupção fluminense montado a partir do PMDB local, situação que rivaliza com o domínio do crime organizado no Espírito Santo nos anos 2000
No Brasil de hoje em dia, o termo “tempestade perfeita” perdeu o impacto, tornou-se surrado, tamanhas as superposições de crises — política, ética, econômica, social. E, entre os estados, nada há igual ao Rio de Janeiro. Não é sempre que, ao mesmo tempo, há um ex-governador preso (Sérgio Cabral), na companhia de auxiliares diretos; um governador em exercício sob investigação (Pezão); conselheiros do Tribunal de Contas afastados, depois de ficarem trancafiados, compondo um quadro que se agravou ontem, com a deflagração da operação “Cadeia Velha”, pelo Ministério Público e Polícia Federal.
Desta vez, está na mira de investigações anticorrupção a Assembleia Legislativa (Alerj), cujo papel no trânsito de propinas via PMDB fluminense — representante legítimo do braço do partido que atua no Congresso, tachado de “quadrilhão pela PF — nunca foi menosprezado. Agora, com a condução coercitiva, para depor, do presidente da Casa, Jorge Picciani, e com a prisão de seu filho, Felipe, responsável pela administração dos negócios agropecuários da família, usados, segundo acusações, para lavar dinheiro de propinas, as autoridades avançam em terreno potencialmente revelador.
Também foram atingidos os deputados Paulo Melo, outro peemedebista, ex-presidente da Casa, acusado de suceder a Picciani na distribuição de propinas quando o substituiu no cargo, e Edson Albertassi, do mesmo partido.
A “Cadeia Velha” parte de delação premiada de empresário do setor de ônibus — sempre este —, Marcelo Traça, e, por isso, mandados de prisão foram emitidos contra velhos conhecidos da Fetranspor (Lélis Teixeira, José Carlos Lavouras e Jacob Barata). Além de assessores de Jorge Picciani e Paulo Melo.
O pagamento de propinas deste setor a políticos, bem como de empresários em geral que fazem negócios com o governo fluminense, não é inédito. O que há de novidade é o fortalecimento da constatação, com provas e evidências colhidas pelo MP e pela PF, da existência de um grande esquema de corrupção abrangendo o Executivo, o Legislativo e ramificado no Tribunal de Contas. Pelo que se sabe até agora.
Assim, o Rio de Janeiro do PMDB de Cabral, de Pezão, de Picciani e aliados rivaliza com o Espírito Santo do início dos anos 2000, quando o presidente da Assembleia capixaba, José Carlos Gratz (então PFL), bicheiro, dava suporte à criminalidade no estado. O Rio, porém, é maior que o Espírito Santo, o que agrava a situação.
Há muito a esclarecer, em especial a manobra de Pezão e Alerj para colocar Edson Albertassi em vaga aberta no TCE, numa operação facilitada pela estranha renúncia ao posto de três candidatos habilitados ao cargo, por serem auditores. Que Albertassi não é. E por isso teve a nomeação sustada por liminar. Tudo reflete uma desmedida vontade do Palácio Guanabara de contar com alguém no TCE.
Aspecto positivo é que a limpeza em curso no Rio de Janeiro permite a reconstrução da vida política no estado em bases saudáveis. Cabe a forças políticas fluminenses cumprir esta tarefa em 2018.
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