Desde os anos 1990, Jorge Picciani, ao lado de Sérgio Cabral, comanda o Estado
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Wilson Tosta / O Estado de S. Paulo
RIO - A ofensiva do Ministério Público Federal e da Polícia Federal contra o esquema de corrupção que envolveria a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro implodiu o que restava do PMDB no Estado e elevou ainda mais a incerteza que cercará a eleição estadual de 2018. O presidente da Assembleia, Jorge Picciani, ao lado do ex-governador Sérgio Cabral e do deputado cassado Eduardo Cunha, comandou a política fluminense nos últimos 20 anos. Do trio, apenas Picciani ainda não foi alvo de prisão, apesar de já haver um pedido feito pelo Ministério Público Federal.
A condução coercitiva imposta a Picciani pelo desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), tem potencial para encerrar um ciclo de poder iniciado no Rio há duas décadas, período em que um grupo de políticos ligados à cúpula do Legislativo estadual influiu fortemente nos governos estaduais e, depois, ascendeu ao comando do Executivo local.
A Operação Cadeia Velha, ao atingir a Alerj, recua o tempo político fluminense até 1995, quando foi montado o tripé que comandaria o Palácio Tiradentes pelos 22 anos seguintes. O grupo era formado por Cabral na presidência da Alerj, Picciani na 1.ª Secretaria e o deputado Paulo Melo na liderança, primeiro do PSDB, depois do PMDB. Esses três políticos, ao longo de mais de duas décadas, influíram nos governos Marcello Alencar (1995-1998), Anthony Garotinho (1999-2002), Benedita da Silva (abril a dezembro de 2002) e Rosinha Garotinho (2003-2006).
A partir de 2007, assumiram diretamente o Palácio Guanabara, com Cabral à frente, e, no embalo do projeto olímpico, conquistaram a prefeitura da capital em 2008 e 2012, com Eduardo Paes (PMDB).
O PMDB do Rio já se preparava para enfrentar no ano que vem um cenário de dificuldades após comandar o Estado por quatro governos seguidos. Os motivos vão da prisão de Cunha, um forte arrecadador e financiador de campanhas locais, à falência do Estado justamente nas mãos do PMDB, além das consequências do escândalo de corrupção envolvendo o governo Sérgio Cabral, que já foi condenado três vezes – duas por sentenças proferidas pelo juiz Marcelo Bretas e uma pelo juiz Sérgio Moro.
Cenário. A situação se agrava agora com a migração do foco da operação no Rio em direção ao presidente da Assembleia e do PMDB fluminense, Jorge Picciani. O deputado era o último cacique do partido no Estado que ainda não havia sido alvo das investigações, apesar de já ter sido citado em mais de uma delação na Lava Jato.
A legenda também planejava duas candidaturas possíveis para continuar mais quatro anos no comando do Estado. O mais cotado era o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, que depois de um ano morando nos Estados Unidos, começou a organizar seu retorno à política fluminense.
A outra opção, sonho antigo do presidente da Alerj, era ter um Picciani sentando na cadeira mais importante do Palácio Guanabara. Picciani não escondia o desejo de ver um dos seus “filhos políticos”, Rafael ou Leonardo, disputando o governo.
Os danos ao partido devem aumentar com a divulgação da delação premiada do marqueteiro Renato Pereira (mais informações nesta página). A avaliação é de que os relatos do publicitário têm potencial para atingir ainda mais o PMDB do Rio.
O vazio deixado pela legenda poderá abrir espaço a novos atores políticos fluminenses e abalar de vez a era dos caciques do Palácio Tiradentes.
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