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O tucano Bruno Araújo ensaiou deixar o cobiçado Ministério das Cidades em maio, no turbilhão político desencadeado pela delação da JBS. Tal intento só foi levado a cabo agora, seis meses depois, em meio a avançado processo de desmoralização de seu partido e do governo Michel Temer (PMDB).
Acredita-se que a troca na pasta, detentora de verbas para obras em urbanismo, habitação e saneamento, vá dar início à saída do PSDB da coalização situacionista.
Ao mesmo tempo, prevê-se uma reforma ministerial destinada a recompor o quinhão das demais siglas no Executivo federal —o que, com um tanto de pensamento positivo de operadores do mercado financeiro, pode ser encarado como uma nova chance para a essencial reforma da Previdência.
Convém moderar apostas, entretanto, em desfechos favoráveis de imediato às duas partes.
Do lado tucano, o eventual rompimento com o governo não se dará, decerto, por razões programáticas. Seu candidato ao Planalto em 2018, qualquer que seja —o governador de são Paulo, Geraldo Alckmin, parece hoje o nome mais provável—, dificilmente poderá propor uma agenda econômica distinta da conduzida por Temer.
Tampouco será simples apregoar que a retirada ocorreu por motivos de ordem ética, enquanto o partido abriga em sua cúpula, a salvo de questionamentos, o mineiro Aécio Neves, tão fulminado quanto o presidente da República pelas gravações de Joesley Batista.
Já na seara ministerial, frustraram-se uma a uma as expectativas criadas pela gestão peemedebista: primeiro, a redução drástica do primeiro escalão; depois, a composição de uma equipe de notáveis; por fim, mesmo a promessa mais modesta de afastar os denunciados pelo Ministério Público.
Anunciou-se que o número de pastas cairia de 32 para 23; são 28 atualmente. Mais relevante que a quantidade é a ausência de sentido administrativo —num exemplo, não se entende que propósito teve a recriação da Secretaria-Geral da Presidência além de proporcionar foro privilegiado a seu titular, Moreira Franco (PMDB).
Com uma nova rodada de loteamento da Esplanada brasiliense entre as forças aliadas do Congresso Nacional, a política econômica tende a se tornar, de modo ainda mais acentuado, o esteio básico, talvez único, do governo.
Conta-se com algum progresso adicional da pauta reformista, mais uma melhora digna de nota da produção e do emprego, para que haja um legado a ser defendido nas eleições de 2018. Mais difícil, porém, será encontrar um nome com credibilidade, convicção e votos para assumir essa tarefa.
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