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Não era segredo a intenção do presidente Michel Temer de trocar alguns de seus ministros. Seja para adequar a Esplanada dos Ministérios à nova configuração da base de apoio ao governo, seja para liberar os seus auxiliares diretos que têm a intenção de concorrer nas eleições de 2018 – o prazo para desincompatibilização vencerá em abril –, a reforma ministerial já vinha sendo tratada às claras, com ampla repercussão da imprensa, e já tinha até um prazo definido para começar: o início de dezembro.
A saída de Bruno Araújo do Ministério das Cidades, comunicada ao presidente Temer ontem, antecipou em algumas semanas um movimento dado como inexorável.
Em sua carta de demissão, Bruno Araújo alegou a perda da sustentação oferecida por seu partido, o PSDB, como a razão maior para a sua saída do Ministério. “Agradeço a confiança do meu partido, no qual exerci toda a minha vida pública, e já não há mais nele apoio no tamanho que permita seguir nessa tarefa”, escreveu.
À primeira leitura, o racha do PSDB, cindido entre os que defendem a permanência do partido na base de apoio ao governo e os que propõem o desembarque, pode parecer, de fato, a principal razão para a primeira defecção tucana no primeiro escalão do Poder Executivo, após o início da guerra fratricida que tem reduzido a legenda a um amontoado de interesses paroquiais, carente da identidade que um dia já foi o seu principal ativo político.
Em entrevista ao Estado, Bruno Araújo disse que “não havia mais clima” para permanecer à frente do Ministério das Cidades porque o partido já não lhe dava o apoio necessário ante a própria desagregação da legenda. “Vou retomar o meu mandato de deputado na Câmara e construir as alianças para o ano que vem”, disse. De fato, não se pode desconsiderar a sua própria estratégia eleitoral. Filiado ao PSDB de Pernambuco, Bruno Araújo cogita candidatar-se ao governo do Estado, onde a popularidade de Michel Temer é baixa e poderia lhe trazer dissabores durante a campanha eleitoral do ano que vem.
O presidente Michel Temer deverá mexer nas posições dos outros três ministros do PSDB que atualmente compõem o seu governo.
Luislinda Valois, titular da pasta dos Direitos Humanos, é outra tucana que deve sair do governo em breve. Razões para isso não faltam. Aloysio Nunes, que faz competente gestão da política internacional brasileira à frente do Ministério das Relações Exteriores, deverá permanecer no cargo até o fim do prazo legal para desincompatibilização, em abril do ano que vem, quando deverá anunciar a sua candidatura à reeleição ao Senado. Já o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, deverá permanecer como uma escolha da cota pessoal do presidente Michel Temer, sendo transferido para outra pasta e, assim, abrindo espaço para a transferência da articulação política para um partido que, de fato, esteja comprometido não só com a agenda do governo, mas com a inarredável defesa das reformas que precisam ser tocadas no Congresso Nacional, sobretudo a reforma da Previdência.
Por conta dessas revoadas no ninho tucano, muito se tem especulado sobre as mudanças que o presidente Temer deverá fazer em seu Ministério. Nada indica que a reforma ministerial que acaba de começar prosseguirá com a substituição em bloco dos políticos em busca de mandato. Ao contrário, as trocas deverão ocorrer aos poucos, de acordo com os interesses políticos dos demissionários e do governo.
É fundamental que, neste momento de suma importância para a definição dos rumos que o País deverá tomar, a composição do primeiro escalão do Poder Executivo reflita o apoio que os partidos aliados, efetivamente, são capazes de lhe dar no âmbito do Poder Legislativo.
No momento em que uma nuvem tóxica dos interesses político-eleitorais parece obnubilar os interesses da Nação, o presidente Temer deverá escolher para o seu corpo de auxiliares diretos quadros que tenham, além de reconhecida capacidade técnica, a habilidade política para compor com suas bases partidárias e, assim, garantir no Congresso Nacional o bom andamento das reformas de que o País tanto precisa.
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