Sem um consenso mínimo em torno da reforma do Estado brasileiro, futuros eleitos podem se ver condenados ao papel de gerentes de governos falidos
A única certeza possível sobre a política brasileira em 2018 é a eleição. Estima-se que pelo menos 35 mil candidatos se mobilizem durante o ano na disputa pela Presidência, governos, assembleias estaduais, Câmara e Senado. São restritas as perspectivas de renovação de lideranças sob uma lei eleitoral feita sob medida para garantir a reeleição de quem já possui mandato.
Com 35 partidos, 28 deles com bancadas no Congresso, assegurou-se, também, a continuidade da fragmentação na representatividade parlamentar em nível sem paralelo no mundo.
Por isso, os futuros presidente e governadores vão precisar demonstrar desde a campanha extrema habilidade para governar nesse mosaico político-partidário. Caso contrário, podem se descobrir emparedados antes mesmo da posse, condenados ao papel de gerentes de governos falidos, sob permanente desconfiança de um eleitorado arisco às praticas políticas tradicionais e, ao mesmo tempo, acossados por grupos de interesses.
A melhor alternativa disponível a todos é, desde já, se integrar ao processo de construção de um consenso mínimo em torno da reforma do Estado brasileiro. Fora disso, não há salvação nem para eleitos e nem para eleitores, como demonstra a penúria do Rio, de Minas, do Rio Grande do Sul e do Rio Grande do Norte. A lista dos falidos ou em regime pré-falimentar tem a dimensão do mapa político do país, conforme a Secretaria do Tesouro Nacional.
Essa será, inexoravelmente, a realidade com a qual os próximos governantes vão se defrontar a partir do momento em que se proclamarem vencedores nas urnas. É salutar que esse quadro esteja sendo percebido em núcleos de poder, como sugerem sucessivas reuniões de governadores com o presidente da Câmara para discussão sobre as dívidas estaduais.
Sem mudanças na estrutura e no funcionamento do Estado brasileiro, os eleitos estarão fadados à mera gerência de desequilíbrios permanentes entre receitas e despesas — sem o antigo luxo de poder jogar a culpa nos antecessores, porque eleitores já não distinguem políticos e partidos.
O diagnóstico é conhecido. O país usa 55% do seu orçamento para custear uma Previdência Social capaz de pagar apenas um salário mínimo a 60% dos seus beneficiários, o que a caracteriza como concentradora de renda. Gastos obrigatórios crescentes nas folhas e a burocracia em excesso inviabilizam a expansão dos investimentos em Saúde, Educação e Segurança, e turvam o ambiente econômico para negócios privados, afetando desde as grandes empresas aos camelôs das esquinas.
A campanha de 2018 abre a oportunidade para um compromisso coletivo com a reforma do Estado. Cabe aos candidatos refletir e transformar a realidade se quiserem resgatar a confiança do eleitorado na política.
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