- Valor Econômico
PT complicou apoios ao dizer que eleição sem Lula é fraude
Às vésperas do julgamento que pode tirar Lula da eleição, o ex-presidente e seu círculo mais próximo de amigos ainda encontram tempo para desenhar cenários eleitorais. Nos últimos dias, cresceu a suspeita do grupo de que está em curso uma articulação para que a escolha do próximo presidente seja à francesa. Neste desenho, o apresentador Luciano Huck seria a novidade [Emmanuel Macron], Lula o candidato de esquerda correspondente a Jean Luc Mélenchon e Jair Bolsonaro à candidata da extrema direita, Marine Le Pen. O plano seria a união da centro-direita em torno de Huck, no segundo turno, seja contra Lula, seja para derrotar Bolsonaro.
Amenidades à parte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estimula conversas sobre um Plano B à sua candidatura em outubro, mas ouve com atenção as mais diversas sugestões. Não é o PT que fala em levar a candidatura do ex-presidente às últimas consequências, é o próprio Lula. Lula acha que o empresário Josué Gomes, filho de José Alencar, seria o vice ideal de sua chapa. Mas Lula também sabe que precisa ter uma alternativa pronta à possibilidade de ser retirado da disputa. É cedo, no entanto, para apostar numa chapa Jaques Wagner-Josué Gomes.
Lula é pragmático. Entre alternativas à mesa, uma delas é sugestão de Ciro Gomes, pré-candidato do PDT. Segundo Ciro, a condenação de Lula muda profundamente o quadro eleitoral e o ex-presidente deveria chamar "todos aqueles sobre os quais tenha ascendência, especialmente do setor progressista, para discutir alternativa para o Brasil, menos de candidato e mais de projeto nacional de desenvolvimento". Em outras palavras, Ciro quer conversar. E assim foi entendido no PT.
Por enquanto, as atenções do partido e de Lula estão voltadas para Porto Alegre, sede do Tribunal Federal de Recursos da 4ª região. Mas já há conversas sobre os dias seguintes ao julgamento. No plural, porque o dia 25 está reservado para o PT dizer que não tem outra alternativa e para fazer o lançamento da candidatura de Lula a um terceiro mandato.
Depois do lançamento, Lula deve discursar para dizer que recebeu do partido a missão de recolocar o país no caminho do desenvolvimento e recuperar o prestígio internacional do Brasil. Mas sobretudo destacar que precisará eleger uma bancada federal que o ajude a governar e implementar seu programa de governo. Hoje mais que nunca o PT sabe que perdeu o poder porque não tinha o Congresso. As alianças à direita desmoronaram com o mensalão e o petrolão.
No discurso ou nos dias seguintes, é possível que Lula faça um convite a Ciro Gomes e aos pré-candidatos do PCdoB, Manuela D'Ávila, e do Psol, Guilherme Boulos, para uma conversa. Lula não pediria para ninguém sair, pelo contrário. Em conversas recentes com amigos e colaboradores, o ex-presidente tem afirmado que vai respeitar todos os candidatos do campo de esquerda que forem candidatos. E mais, assegura que se for ultrapassado por um deles, será o primeiro a apoiar esse candidato no segundo turno. Fica implícito, portanto, que também espera ser apoiado por todos os partidos de esquerda no segundo turno.
Lula e os "setores progressistas" podem avançar e eleger um programa mínimo de campanha, comum a todos os pré-candidatos, como a revogação das medidas aprovadas pelo presidente Michel Temer, a exemplo da reforma trabalhista. Não está dito, mas está nas entrelinhas: se a campanha conjunta funcionar, qualquer um desses partidos poderia ser o Plano B, na hipótese de a candidatura Lula sofrer a impugnação. O ex-presidente, mesmo, nunca falou abertamente no assunto.
Há também insatisfação com a condução do PT. Quando diz que "eleição sem Lula é fraude", o partido está acusando os candidatos que permanecerem na disputa de participar de uma fraude. Irretocável. Essa é a leitura de Ciro Gomes, por exemplo. O pedetista não admite que estará participando de uma fraude, se disputar uma eleição sem Lula na urna eletrônica.
O voto nulo é proposta em baixa nos círculos partidários que efetivamente acompanham a evolução de Lula em relação à eleição, mas tem adeptos na direção do PT. Risco: a ideia pode empolgar setores mais radicais e rebater nas eleições de candidatos a governador e proporcionais do PT. O ex-presidente está realmente pensando em escrever uma carta aos brasileiros, mas nada na linha de "acalmar os mercados" como sugeriu a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, em entrevista a uma agência internacional de notícias. "Não será a carta do Palocci", diz um assíduo interlocutor do ex-presidente.
O bom filho
O senador Fernando Collor de Mello é pré-candidato a presidente para ajudar o PTC a ultrapassar a cláusula de barreira de 1,5% dos votos, em no mínimo nove Estados da Federação. Nas últimas eleições, o PTC elegeu apenas dois deputados e é uma das legendas ameaçadas pela nova legislação sobre representação partidária. Collor ainda tem quatro anos de mandato como senador e nada a perder sendo candidato para ajudar o partido que o levou à Presidência em 1989: o PTC nada mais é que o antigo PRN.
Subversão hierárquica
Entre um juiz de Niterói e um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, ficou com o juiz. O juiz suspendeu a posse da deputada Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho; o ministro, revogou a decisão. Cármen Lúcia preferiu ficar com o juiz, até conferir os termos da decisão do ministro Humberto Martins, do STJ, para se pronunciar no mérito. Fez porque quis. Enquanto a polêmica for Cristiane Brasil, a ministra pode fazê-lo sem maiores consequências. Problema será quando um juiz substituto de Niterói barrar a nomeação do presidente do Banco Central ou do ministro da Fazenda. É só trocar o nome de Cristiane Brasil por Henrique Meirelles para se ter uma ideia da confusão que seria nos mercados.
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