Presidente ainda precisa escolher pelo menos 13 novos ministros na reforma de abril
Leticia Fernandes / O Globo
BRASÍLIA - Anovela, assim autodeclarada pelo próprio governo, envolvendo a posse da deputada Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho parece indicar que não será mais tarefa simples nomear indicados da base aliada com manchas ou sombras no currículo. Muito se ouve no Palácio do Planalto que os problemas envolvendo a quase ministra são mais morais que de fato ilegais.
É bom lembrar que o presidente vai precisar substituir, até abril, pelo menos 13 ministros que deixarão seus cargos na Esplanada para fazer suas campanhas políticas nas eleições deste ano, e o desafio para trocá-los pode tomar muito tempo de Temer.
Logo no terceiro dia do ano, após uma conversa no Palácio do Jaburu, Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, correu para anunciar à imprensa, com lágrimas nos olhos, que sua filha, Cristiane Brasil, seria a nova ministra do Trabalho. Não deu nem tempo de a Casa Civil fazer uma varredura na vida da futura ministra, como ocorre com nomeações políticas, e já pulularam notícias de processos na Justiça trabalhista respondidos pela parlamentar.
O caso da quase ministra mostra que a lógica de acatar nomeações políticas sem maiores questionamentos não está funcionando. Temer bem que tentou manter as coisas como estavam, mas acabou obrigado a afastar quatro dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica Federal investigados. Os partidos que sustentam o governo chiaram, irritados com a possibilidade de perderem seus espaços no banco, mas o governo diz que vai reger a Caixa pela Lei das Estatais e que as nomeações serão técnicas a partir de agora, o que passaria a ser “um caminho sem volta”.
Em entrevista recente, no entanto, o presidente Michel Temer admitiu tanto a possibilidade de acatar novas indicações políticas, como deixou uma porta aberta em relação à volta desses mesmos dirigentes afastados, caso sejam inocentados.
Menos por um desejo do mundo político, sempre faminto por patrocinar indicações na administração pública, e mais por uma atuação mais incisiva do Judiciário sobre decisões políticas, Michel Temer pode ter que enfrentar dezenas de longas novelas como esta se insistir em acatar, sem um mínimo rigor, nomes indicados por dirigentes partidários, muitos deles também enrolados na Justiça.
Para não enfraquecer demais o seu governo, o presidente talvez tenha que trazer de volta ao seu vocabulário a famosa “linha de corte” e, de fato, usá-la para fazer a reforma ministerial.
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