O Brasil surpreendeu, na semana passada, ao vender US$ 1,5 bilhão em títulos de 30 anos no mercado internacional, pagando menos do que na captação anterior, alguns dias depois de ter tido a classificação de risco de crédito rebaixada pela agência de rating Standard & Poor's (S&P). Os papéis, originários da reabertura da emissão de bônus global com vencimento em 2047, tiveram uma demanda quatro vezes maior do que a oferta e prometem 5,6% aos compradores, menos do que os 5,875% de remuneração garantida quando foram lançados, em junho de 2016. Títulos do Tesouro brasileiro com o mesmo prazo renderam mais, em 2009, quando o risco do Brasil estava três notas acima e era considerado grau de investimento.
Teria a S&P se precipitado ao rebaixar o Brasil? Ou os investidores não estão mais se importando com a avaliação das agências de rating? Essas afirmações são parte da explicação para o aparente paradoxo. É verdade que as agências de avaliação de risco de crédito ainda não recuperaram totalmente a credibilidade depois de terem falhado ao não identificar problemas em instituições financeiras e emissores de títulos e não terem sinalizado com antecedência a crise financeira de 2007/2008. Até em resposta a isso, se tornaram mais rígidas.
A Standard &Poor's foi a primeira agência internacional de risco a conceder grau de investimento ao Brasil, em 2007; e também foi a primeira retirar o selo de bom pagador em 2015, em consequência dos retrocessos da política econômica no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Agora, rebaixa mais uma vez o país para a nota BB-, e não deixa de ter razão ao explicar que o governo de Michel Temer não conteve a deterioração fiscal, apesar de ter promovido vários avanços nas agendas micro e macroeconômica e na política monetária, e ter levado a inflação abaixo do piso da meta e reduzido os juros para patamar histórico. A agência considera improvável a aprovação da reforma da Previdência neste ano e negativa a ameaça de se mudar a "regra de ouro", que limita o endividamento.
No entanto, o mercado financeiro aparentemente já dá como certa a postergação do ajuste fiscal e, para efeito de compra de títulos globais, mira mais as reservas internacionais e as contas externas, pontos fortes do Brasil, que conta com cerca de US$ 380 bilhões acumulados e resultado equilibrado diante das exportações e investimentos estrangeiros. Sinal disso é a cotação do "credit default swap" (CDS) do país, equivalente a um seguro de crédito, que reflete o risco atribuído pelo mercado. O CDS brasileiro tem girado ao redor de 150 pontos e pouco mudou após o rebaixamento da nota brasileira. A taxa está até abaixo dos cerca de 170 pontos atribuídos a outros países com a mesma nota (Valor 19/1) e do pico recente ligeiramente abaixo de 250 pontos, atingindo quando foi divulgada a gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista.
Para alguns especialistas, o descolamento entre a avaliação das agências e o risco-país medido pelo CDS é mais consequência do excesso de liquidez, que tem impulsionado o mercado de capitais e aberto espaço para a colocação de títulos. Em pouco mais de 15 dias, empresas brasileiras entre as quais desde velhas conhecidas como a Petrobras até verdadeiras novatas captaram cerca de US$ 3 bilhões com a venda de bônus no mercado internacional.
O clima positivo também é derivado das previsões de crescimento da economia, que fortalecerem o fluxo de capital externo para os mercados emergentes. Relatório recente do Banco Mundial aponta para expansão global de 3,1% neste ano, sendo 4,5% entre os emergentes, ligeiramente acima dos 3% e 4,3%, respectivamente, de 2017. Os países asiáticos seguem como locomotiva do movimento, que contagia os demais pela recuperação dos preços das commodities e desenvolvimento do comércio. Há alguns pontos de interrogação no horizonte como as mudanças demográficas e a redução da produtividade, alertou recentemente o jornalista Martin Wolf, no Financial Times. A sustentabilidade do crescimento e do otimismo do mercado certamente serão temas do Fórum Econômico Mundial, esta semana em Davos, Suíça.
Como a Standard &Poor's comentou, o crescimento da economia brasileira, embora animador ainda é baixo e lento para as necessidades do país.
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