- Folha de S. Paulo
Habituado ao mármore branco do Palácio do Planalto e a eventos com engravatados em hotéis paulistas, Michel Temer agora cogita sair às ruas para pedir votos na próxima eleição. O presidente quer usar a campanha para tirar sua popularidade do buraco, mas a enorme rejeição a sua imagem é justamente o que pode inviabilizar o figurino de candidato.
Para se blindar de protestos desde que assumiu o poder, Temer limitou aparições fora dos salões do governo e deu prioridade a encontros fechados com empresários, investidores e políticos aliados.
No ano passado, quando sua aprovação já caíra para um dígito, o presidente participou de 70 eventos dentro do Palácio do Planalto, cercado de ministros e com uma plateia restrita a convidados amigáveis.
Em contraste, protagonizou pouco mais de 25 atos eminentemente públicos, como entregas de casas, inaugurações de obras e solenidades diante de potenciais eleitores.
Parece improvável que Temer esteja disposto a romper a redoma palaciana para expor seus 6% de aprovação nos camarotes da Sapucaí ou viajar pelo sertão nordestino para divulgar realizações de seu mandato.
Em 1997, FHC aproveitou a estrutura do governo para inaugurar um projeto de irrigação em Petrolina (PE), onde montou a cavalo e fez corpo a corpo com vaqueiros. Ele tinha 43% de aprovação e, mesmo assim, o personagem caiu mal.
A candidatura de Temer só existe, por enquanto, entre aliados que desconsideram vaias e as acusações de corrupção que recaem sobre o presidente. Eles precisarão refazer os cálculos antes de entrar em campanha.
A reeleição costuma desequilibrar disputas a favor de quem está no cargo, pois permite o uso da máquina pública para multiplicar a exposição da figura que se confunde entre candidato e chefe de governo. No caso do presidente mais impopular desde a redemocratização, a balança pode pender para o lado contrário.
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