- O Estado de S.Paulo
Há novas razões para apostar em que o índice de preços continue baixo
A inflação continua oferecendo boas surpresas. Em janeiro, para quando o mercado esperava avanço de 0,40%, veio um terço a menos, veio 0,29%. Em 12 meses, a inflação caiu de 5,35% em janeiro de 2017, para 2,86% em 2018.
Se este fevereiro emplacar alguma coisa em torno do que deu em janeiro, o Banco Central terá de rever sua decisão tomada nesta quarta-feira, de deixar os juros básicos (Selic) parados por algum tempo em 6,75% ao ano. Terá de aplicar pelo menos mais uma dose de 0,25 ponto porcentual. A conferir na próxima reunião do Copom agendada para 21 de março.
E há novas razões para apostar em que a inflação continue baixa, a despeito da estocada esperada a partir dos reajustes do custo da educação (mensalidades escolares e material didático). Uma delas são as novas previsões das safras agrícolas que apontam para algo melhor do que o esperado, especialmente na área da soja. Nova supersafra de grãos tende a segurar também em baixa os preços dos alimentos.
Como já está no comunicado divulgado após a reunião do Copom de quarta-feira, o risco maior são as distorções provocadas pela desordem das contas públicas. Se a decisão for de adiar novamente a reforma da Previdência, sinal negativo estará sendo repassado para a sociedade, que tenderá a defender-se com alta de preços.
Os juros básicos (Selic) agora nos 6,75% ao ano e o novo recuo da inflação ajudam a preservar poder aquisitivo e, portanto, ajudam na recuperação da economia. Mas achatam o rendimento das aplicações financeiras. O retorno bruto do DI (antes do Imposto de Renda) se limita agora a 0,5458% ao mês. E a caderneta de poupança (nova) não paga mais do que 0,3994% ao mês. Esta será razão adicional para empurrar os aplicadores a mais risco. E a maior procura por risco será fator adicional para valorização dos ativos de risco.
Ainda sobram por aí pessoas para as quais a queda da inflação não passa do resultado da asfixia do consumo produzida pela recessão. É afirmação simplista. Nos dois últimos anos do governo Dilma, a queda do PIB foi, respectivamente, de 3,5% e de 3,6% e, no entanto, a inflação estava na casa dos 10%.
A inflação caiu por um punhado de fatores positivos convergentes. Foi concluída a atualização dos preços administrados (principalmente tarifas), que estavam atrasados; a política monetária (política de juros) foi consistente e o Banco Central soube conduzir as expectativas; a inflação quase zerada nas principais economias do mundo ajudou; o dólar permaneceu relativamente estável em reais, o que segurou os preços dos importados; e houve a supersafra que conteve o reajuste dos alimentos, especialmente dos cereais.
Mas a inflação não é a casa inteira. O desempenho da economia depende de inúmeros outros fatores. A mais premente e a que trabalha em direção oposta é a já mencionada área das contas públicas. E há as nuvens escuras que pairam sobre a economia mundial, caso os grandes bancos centrais se vejam na obrigação de colocar em marcha o ajuste monetário – como ficou analisado na Coluna desta quinta-feira. Mas o resumo geral é o de que a economia está saindo do sufoco.
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