Por Marcus Lopes | Valor Econômico
Para grupo apartidário de cientistas políticos, apesar de insatisfação popular, a eleição de 2018 será resistente a outsiders e “fake news”
SÃO PAULO - As mídias sociais vão ter um papel importante na divulgação e no debate das propostas dos candidatos nas eleições deste ano, mas as notícias falsas ("fake news") devem provocar um impacto menor do que é esperado. Elas podem não ser uma marolinha, mas também não serão um tsunami no processo eleitoral. O motivo é que o eleitor tem uma desconfiança muito grande do que é veiculado como notícia nas redes sociais, como o Facebook.
A afirmação é do cientista político Rubens Figueiredo, diretor da consultoria Cepac e da AZClick, startup que cuida de redes sociais e "big data". "As pesquisas mostram que pessoas confiam muito mais nos veículos de comunicação tradicionais, seja o jornal impresso ou portal na internet, para consumir notícias. Logo, um dos efeitos da tecnologia é justamente aumentar a credibilidade da mídia convencional", diz Figueiredo.
Diante das incertezas políticas e econômicas e o complexo cenário eleitoral deste ano, Figueiredo lidera um grupo apartidário de cientistas políticos de peso que resolveu se unir para debater questões e elaborar propostas que acendam uma luz no fim do túnel para o país. Chamado de G-5, o grupo, que também conta com os cientistas políticos Bolívar Lamounier, Gaudêncio Torquato, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola, vai discutir questões desde o caos na segurança pública à consolidação da democracia no país, além de tentar decifrar o comportamento da sociedade e como a indignação do eleitor se comportará na hora de depositar o voto na urna.
"O cenário eleitoral está marcado por uma série de questões: fragmentação partidária, desconfiança do eleitorado em relação aos partidos e políticos e a busca açodada de um candidato de centro", afirma Lourdes Sola, professora do departamento de ciências políticas da USP. "O saldo dessas incertezas se reflete na dificuldade das lideranças partidárias em construir coalizões eleitorais que reapresentem à sociedade valores e programas que respondam não só às suas preferências e interesses, mas também abram perspectivas de melhor governança."
A proposta das reuniões periódicas é debater temas que estarão presentes no pleito de outubro, como saúde, educação, segurança e reformas de Estado, como a reforma política. A partir das discussões, serão elaborados documentos posteriormente entregues aos candidatos e divulgados gratuitamente à sociedade, em uma espécie de "agenda Brasil" de prioridades e reflexões sobre os problemas do país.
"Se criarmos alguns eixos que possam ser analisados e discutidos pelos candidatos, já teremos avançado muito", diz Figueiredo. Na primeira reunião (no dia 16 de janeiro) foram discutidas questões como o risco de polarização e as falhas do sistema político brasileiro.
A tarefa de análise não será fácil diante de tantas dúvidas, inclusive sobre as forças políticas que devem exercer um papel de protagonismo na eleição. O eleitor, por sua vez, está indignado e amargo com os políticos, reflexo direto das investigações da Lava-Jato e da crise política e econômica. "O país enfrenta a crise mais grave do período republicano, que colocou em xeque não só a economia, mas o funcionamento de todo o sistema político", diz o jornalista e cientista político Gaudêncio Torquato. "Isso levou a uma descrença e desconfiança muito grande da população em relação aos políticos, em particular o Congresso Nacional e os partidos", afirma Torquato.
Ele diz acreditar que, apesar da insatisfação generalizada com a classe política, haverá baixa renovação (em torno de 40%) no Legislativo federal e estaduais. O fato de a campanha deste ano no rádio e na televisão ser mais curta (redução de 45 para 35 dias) e com menos recursos por causa das restrições de financiamento, os candidatos mais conhecidos ou que já possuem algum cargo devem ser beneficiados. "Os candidatos novos, que em tese representam a renovação desejada pelo eleitor, serão prejudicados pelo desconhecimento, pois não haverá tempo ou dinheiro suficientes para fazer uma boa campanha de apresentação ao eleitor", diz Torquato.
Os estudiosos também veem com ceticismo o sucesso de candidaturas de fora da vida política. "Nenhum governante consegue governar sem a política, os políticos, os partidos e o Congresso. Ele simplesmente cai do poder", afirma Torquato, que diz não acreditar na popularidade conquistada na mídia como um caminho seguro para execução de um bom governo. "O outsider é um perigo, pois ele pode tornar-se rapidamente um populista, já que não tem experiência para lidar com os problemas do país."
Opinião semelhante tem o colega José Álvaro Moisés. "Não será alguém totalmente descolado da política que vai oferecer soluções para os complexos problemas do país", diz Moisés, pesquisador do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP.
Segundo o professor, o sucesso de candidaturas de pessoas que possuem imagem popular é reflexo da difícil conjuntura política. "O outsider surge na crise de lideranças no país. O fato de alguém ter sensibilidade social não significa que ele está preparado para enfrentar a complexidade das questões brasileiras", afirma Moisés.
O papel que será exercido pelo presidente Michel Temer na própria sucessão ainda é uma incógnita, na visão do G-5. Tudo vai depender, segundo eles, da recuperação econômica nos próximos meses e do sucesso das reformas propostas pelo governo federal, como a da previdência.
"Pessoalmente Michel Temer deve ter pouca influência, mas a ideia de que será necessário manter as coisas que estão dando certo no seu governo, como a melhora da economia, deve influenciar bastante na escolha do seu sucessor", diz Figueiredo. "Uma chapa que reúna os partidos de centro e proponha a continuidade de uma política econômica que esteja dando certo é bastante interessante."
Nenhum comentário:
Postar um comentário