sexta-feira, 18 de maio de 2018

Economia segue na rota do baixo desempenho: Editorial | Valor Econômico

A política monetária encerrou o ciclo de baixa e a recuperação da economia, já bastante fraca, terá de se virar sem seu único estímulo. É certo que o ciclo seria interrompido de qualquer forma e que os efeitos da grande redução, resultado de cortes em 12 reuniões consecutivas do Copom, até agora não se fizeram sentir por completo. Com todas as condições favoráveis, no entanto, o desempenho econômico no primeiro trimestre foi decepcionante, a julgar por vários indicadores setoriais e, agora, pelo IBC-Br do Banco Central, que registrou queda de 0,13% no período.

O IBC-Br foi o mais recente dos indicadores a exprimir a letargia da reação da economia. Dados negativos do comportamento dos serviços, do emprego e de vários indicadores de confiança esfriaram as expectativas de bancos e consultorias mais otimistas. E os analistas pessimistas estão agora mais pessimistas. A pesquisa Focus vem indicando há semanas que as projeções para o crescimento do PIB no ano se aproximam dos 2,5%. Há um movimento em direção, na verdade, aos 2%, mas aguarda-se a divulgação dos números oficiais do IBGE, no dia 30, para revisões mais apropriadas.

Não há nada de estranho ou imprevisível que tenha ocorrido nesse início do ano. A economia continua se debatendo com as sequelas da mais longa recessão da história republicana recente e das políticas que a produziram. A desarrumação das contas públicas, que estão produzindo déficits superiores a 2%, impediram que medidas contracíclicas sustentáveis entrem em cena. A crise política, que corre paralela, desarticulou investimentos e o governo federal, totalmente enredado nela, não criou condições para expectativas mais favoráveis aos investimentos privados.

O reaquecimento econômico será lento, como se previu desde meados de 2017, e os mais otimistas na curva das expectativas estão às voltas com a realidade. Uma parte dos analistas apostou em uma recuperação como as ocorridas no passado recente - rápida e intensa. Era difícil apreciar, no entanto, a profunda avaria no motor do consumo, depois de mais de uma década de exuberante performance.

Grosso modo, o consumo é empurrado por salários, empregos e crédito. Inicialmente foi possível conceber uma reação mais vigorosa do consumo pelos ganhos de poder aquisitivo resultantes de um recuo surpreendente e acima do esperado da inflação, propiciado em primeiro lugar por uma política firme do Banco Central para trazer a inflação de volta às metas. Isso continua sendo uma ajuda notável à retomada - no trimestre, só duas das 17 capitais do país não registraram deflação em seus índices. No entanto, os ganhos reais de salários, que se situavam entre 3% e 4%, ficaram bem mais modestos. Com dados dessazonalizados até março, corriam ao ritmo de 1,1% no ano, com avanço maior, embora ainda modesto, de 1,27% quando considerado o período de 12 meses.

Se o emprego estivesse aumentando com alguma rapidez, o consumo talvez mostrasse melhor forma. Isso não está ocorrendo, como indicaram os dados da Pnad Contínua para o trimestre. Com isso, a massa salarial trimestral avançou 1,62% nos três primeiros meses do ano, enquanto que ela ainda é ligeiramente negativa em 12 meses (-0,32%).

A debilidade do mercado de trabalho atua sobre o mercado de crédito, cuja evolução foi negativa no trimestre para as empresas e algo positiva para as pessoas físicas, embora com spreads em alta, que desestimulam tomadores mais cautelosos. A inadimplência não subiu, mas o nível de endividamento das famílias teria de ser menor, ou o mercado de trabalho mostrar-se firme, para que a procura por crédito se reativasse com ímpeto. Isso também não ocorreu, embora a demanda por empréstimos vá melhorar nos próximos meses.

Os dados do consumo foram o ponto frágil do PIB do último trimestre de 2017 - um alerta. Depois de seis meses acima de 1%, declinou para 0,1%. É possível que agora o resultado seja melhor, porque o primeiro trimestre de 2017 foi fraco (avanço de 0,2%).

Com a chegada da temporada eleitoral, recheada de incertezas, valorização do dólar, que afeta negativamente os salários, e o fim da redução dos juros, acumulam-se empecilhos para que a economia se comporte de forma distinta da que exibiu até agora - com renitente falta de vitalidade.

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