Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - "É, de longe, o cenário eleitoral mais aberto do Brasil", resume o deputado federal e presidente do PSDB fluminense, Otavio Leite. A disputa a governador do Rio, nebulosa e à espera de definições da corrida presidencial, tem uma quantidade de pontas soltas que começam, muito lentamente, a se juntar. Centro-esquerda e centro-direita estão tão divididas que mal escondem seus pontos fracos e a dificuldade de se articularem. Podem ser surpreendidas pela direita mais conservadora, com o lançamento do deputado federal e ex-policial militar Marcelo Delaroli (PR), que desponta como palanque estadual de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto. O presidenciável não cogitava ter candidato a governador no Estado.
Até recentemente o maior fator surpresa, o outsider e técnico de vôlei Bernardinho (Novo) refugou e nem por isso o cenário ficou mais claro. O senador e ex-jogador de futebol Romário (Podemos), um "quase outsider", lidera as pesquisas, mas nem todos confiam que entrará em campo.
Na eleição à prefeitura da capital, há dois anos, lançou candidatura e depois a abandonou. Há quem diga que agora estaria mais disposto, com a possibilidade de ser o palanque do azarão e também senador Alvaro Dias (Podemos-PR), pré-candidato ao Planalto. "Tá um pouco diferente. Percebo mais ânimo. Outro dia o vi no avião lendo números sobre o Rio", diz um político do Estado.
No xadrez eleitoral do Rio, porém, a indefinição de Romário é apenas um dos fatores da zona de incerteza. Há dúvida até sobre a participação do segundo lugar no levantamento mais recente, feito pelo instituto Paraná Pesquisas, o ex-prefeito Eduardo Paes, que teve 14,1% das intenções de voto contra 26,9% de Romário.
Recém-filiado ao DEM, Paes é egresso do MDB, manchado pelas acusações e condenações por corrupção que atingiram integrantes da cúpula do partido, entre eles o ex-governador Sergio Cabral e o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani. O próprio ex-prefeito é alvo de investigações da Lava-Jato e estaria recebendo pressões da família para não concorrer e da chinesa BYD Motors - maior montadora de veículos elétricos do mundo, da qual é executivo para a América Latina - para se manter na iniciativa privada.
Independentemente disso, Paes segue a vocação política e se move nos bastidores para cerzir uma ampla coligação que poderia abrigar o MDB, de cuja herança maldita procura se afastar. E até a esquerda, numa improvável aliança com o PT - que já forneceu seu vice quando era prefeito - e o PDT, que também esteve na vice da chapa de seu braço-direito e deputado federal, Pedro Paulo, derrotado à sua sucessão, em 2016.
Fazer esse movimento no DEM, legenda de centro-direita, não é tão fácil. No entanto, o parceiro Rodrigo Maia, ao se eleger presidente da Câmara dos Deputados, também lançou pontes para a esquerda, ao receber votos de PT e PCdoB. A coligação de Paes depende em boa parte, dizem interlocutores, do cenário nacional e de como se dará o "pouso", se sem "avarias", da pré-candidatura de Maia à Presidência da República.
Apesar de amealhar apenas 1% das preferências dos eleitores, Rodrigo Maia tenta aproveitar seu papel pivotal de presidente da Câmara para se transformar no novo líder dos partidos do Centrão. A retirada em bloco de pré-candidaturas - como as do empresário Flávio Rocha (PRB), do ex-ministro Aldo Rebelo (SD) e a dele próprio - deve exigir do candidato que o grupo apoiar uma série de contrapartidas.
Em primeiro lugar, apoio à reeleição de Maia à presidência da Câmara; em segundo, a Eduardo Paes, no Rio; em terceiro, ao DEM de São Paulo; em quarto para o partido em Minas Gerais; e em quinto lugar, "se bobear", suspeita outro político fluminense, a indicação à vaga de vice na chapa presidencial, que pode ser a do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ou mesmo a do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).
O mais provável seria que Paes fosse o palanque estadual do tucano e emulasse no Rio a aliança nacional liderada pelo PSDB. Mas o comportamento de Maia e do Centrão, por enquanto, ainda é errático. "O Rodrigo Maia se engraça pelo Ciro. Futuca o Alvaro Dias. Um apoio ao senador do Paraná na eleição presidencial pode forçar a retirada da candidatura de Romário em favor de Eduardo", observa um dirigente partidário que prefere não se identificar.
Como na corrida presidencial, há ainda dificuldades de atrair para a coligação de Paes o MDB, o PSD e o PR, que se articulam ou já contam com pré-candidatos.
O PSD tem o quarto colocado na disputa, o deputado federal Indio da Costa (8,8%), que deve contar com o apoio do prefeito Marcelo Crivella (PRB), de quem foi secretário de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação.
O PR está prestes a lançar o deputado federal e ex-policial militar Marcelo Delaroli como palanque para a candidatura ao Planalto de Jair Bolsonaro, seu colega na Câmara. A aliança deriva das negociações em Brasília para que o senador Magno Malta (PR-ES) seja vice na chapa de Bolsonaro. Delaroli ainda não constou em pesquisas, mas pode ser puxado por Bolsonaro, que lidera a corrida presidencial no Estado, com 27,4% das intenções de voto, no cenário sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Não está fechado, mas essa é a conversa que tem maior força, a maior construção no nosso partido. De zero a dez, diria que a chance está entre 7 e 8", afirma o deputado federal Altineu Côrtes, presidente estadual do PR fluminense.
Côrtes conta que já foi procurado e teve conversas com Romário em Brasília - "Ele me disse que a candidatura é até o final" -, com Eduardo Paes, no Rio, e com o ex-juiz Wilson Witzel (3,2%), lançado pelo PSC.
A pulverização de candidaturas no centro e na centro-direita, como se vê, é grande e ainda pode aumentar se o MDB, apesar de todo o desgaste dos governos Cabral e de Luiz Fernando Pezão, decidir concorrer. Há três pré-candidatos: os ex-prefeitos Max Lemos (Queimados) e Vinícius Farah (Três Rios) e o deputado estadual André Lazaroni. Neste caso, a legenda estaria lutando para manter a hegemonia que exerce no Estado há quase 15 anos, desde a filiação da ex-governadora Rosinha Garotinho ao partido. Seu marido, por sinal, também está no páreo. Agora no nanico PRP, o ex-governador Anthony Garotinho aparece em terceiro lugar, com 11,6%. Segundo o Paraná Pesquisas, tem a maior rejeição - 71,9% dos eleitores não votariam nele de jeito nenhum - seguido de perto por Paes (65,3%).
Além de um ex-juiz, a única novidade fora do mundo da política é do antropólogo Rubem César Fernandes (PPS), fundador da ONG Viva Rio que registrou 1,1% das intenções de voto na pesquisa realizada entre os dias 4 e 9 de maio, com 1.850 eleitores, em 44 municípios do Estado. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Os levantamentos para a disputa estadual e presidencial, contratados pela Casa Brasil Empreendimentos Culturais e Editoriais Ltda, foram registrados sob o protocolo RJ-09134/2018 e BR-04838/2018.
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