- O Globo
Nos últimos quatro anos, o eleitor vem tendo de lidar, a duras penas, com turbilhão interminável de fatos graves e desconcertantes
Ao comparar resultados de maio com os de março, a nova pesquisa CNT/MDA detecta, de um lado, elevação substancial do percentual de eleitores indecisos e dispostos a votar em branco ou anular o voto e, de outro, quedas nas intenções de voto de todos os candidatos a presidente, afora Ciro Gomes, que mostrou oscilação de menos de um ponto percentual para cima, dentro da margem de erro. O que a comparação revela, a cinco meses das eleições, é um país tomado pela perplexidade e pelo desalento.
Para tentar entender fenômeno tão complexo, há que ter em conta, antes de mais nada, quão massacrado vem sendo o eleitorado desde a eleição presidencial de 2014. Nos últimos quatro anos, o eleitor vem tendo de lidar, a duras penas, com um turbilhão interminável de fatos graves e desconcertantes.
Reeleita numa disputa presidencial acirrada, em que conseguiu esconder do eleitorado as reais proporções da alarmante crise econômica que armara no seu primeiro mandato, Dilma Rousseff permitiu-se imediato e escancarado estelionato eleitoral, ao nomear um ministro da Fazenda de perfil ortodoxo, para levar adiante um programa que contrariava em tudo o que prometera na campanha eleitoral.
Joaquim Levy não durou um ano. E na esteira do quadro de descalabro fiscal que, afinal, emergiu em toda a sua inteireza, Dilma acabou afastada do cargo e submetida a um processo de impeachment que redundou em sua substituição definitiva por Michel Temer, 20 meses após o início do mandato presidencial.
A essa altura, já não havia mais espaço para ilusões sobre o tamanho da recessão que estava em curso. A queda acumulada do PIB no biênio 2015-16 seria superior a 7%. E a taxa de desemprego chegaria a 13,6% no final de 2016, o dobro da que fora observada em 2014. Apesar da recuperação por que agora passa a economia, ainda há 13 milhões de pessoas desempregadas no país.
O desempenho inicial de Temer surpreendeu. Tendo conseguido montar um ministério que lhe assegurou amplo apoio do Congresso e uma equipe econômica de alto nível, conseguiu estabilizar a economia, restaurar a credibilidade do Banco Central e reinstituir a transparência na gestão das contas públicas. E, como parte de um plano de ajuste fiscal paulatino, que teria de se arrastar por mais de um mandato presidencial, conseguiu também aprovar um teto constitucional à expansão de gastos e submeter ao Congresso uma proposta ousada e abrangente de reforma da Previdência.
Há um ano, contudo, a divulgação da estarrecedora conversa de Temer com Joesley Batista, no porão do Jaburu, teve efeitos devastadores sobre sua imagem e as possibilidades do seu governo. Por meses, o presidente viu-se obrigado a gastar boa parte do seu capital político para evitar a cassação da chapa Dilma-Temer e se safar de duas denúncias do Ministério Público ao Congresso.
Quando, afinal, desvencilhou-se dessas dificuldades, o Planalto já havia perdido a ascendência sobre o Congresso que talvez lhe tivesse permitido aprovar a reforma da Previdência, corretamente anunciada como passo crucial na superação do quadro de insustentabilidade fiscal com que se debate o país.
Há também que ter em conta o rápido avanço da Lava-Jato e operações similares, cujos desdobramentos o eleitorado vem acompanhando em detalhe, em maciças doses diárias. Quem diria, há quatro anos, que tantos políticos, de todos os grandes partidos, que davam as cartas em 2014, estariam hoje presos ou aterrorizados com o avanço de processos judiciais que os afetam?
Seria pedir demais do eleitor esperar que não estivesse perplexo e desalentado, após ter sido exposto, por quatro longos anos, a tamanho turbilhão de notícias negativas, tanto na esfera política como na econômica.
Tudo indica que o eleitorado não sairá desse estado tão cedo. Com sorte, em meados de julho, depois da Copa, comece a dar atenção à lista de candidatos a presidente que, afinal, constará da urna eletrônica.
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Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio
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