sexta-feira, 18 de maio de 2018

Parada nos juros é sinal para futuro governo: Editorial | O Globo

Manutenção da Selic em 6,5%, apesar de sinais do próprio BC de que os cortes continuariam, alerta próximo presidente para a gravidade da situação fiscal

Notas do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sinalizavam a continuidade dos cortes nos juros básicos (Selic), numa série inédita, depois de 12 reduções consecutivas, de 14,25% para 6,25%. O próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, em recente entrevista à GloboNews, reforçou o prognóstico. Mas a taxa foi mantida, quarta-feira, nos 6,5%.

Desencontros podem acontecer nos bancos centrais, cujo único compromisso precisa ser com a missão de refrear a inflação e manter a economia equilibrada. A decisão foi sensata, devido à veloz mudança do cenário externo, com o movimento consistente de valorização do dólar, na esteira da expectativa de que os juros americanos devem subir de forma mais rápida. Pois os sinais de aquecimento da economia dos EUA, com risco de mais inflação, são fortes. Na linguagem do Copom, o “balanço de riscos” aconselha cautela, a ser mantida nas próximas reuniões.

A tendência de elevação mais rápida dos juros americanos deprecia, em especial, moedas de países emergentes, porque o dinheiro globalizado que se encontra aplicado em seus mercados vai para os EUA atraído por taxas mais elevadas, conjugadas à extrema segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Quem não estiver com os fundamentos (contas internas, externas, inflação) bem alinhados deve enfrentar grandes desvalorizações, devido à chamada fuga de divisas.

Estar com elevadas reservas externas, como o Brasil (US$ 380 bilhões), ajuda o país a se proteger da tempestade, mas não o livra de danos, porque a situação fiscal brasileira continua séria. Já a Argentina, também com vulnerabilidade fiscal, e ainda mais com baixas reservas, foi forçada a jogar os juros nas alturas dos 40%, e a esquecer o sonho de uma inflação de 15%, porque a desvalorização do peso tornará a meta definitivamente inviável. O alvo de 17% para o ano passado já não foi atingido. No momento, a inflação está em 25%.

Além das reservas, o Brasil tem a vantagem de uma inflação baixa (aquém de 3%), o que significa uma razoável margem de manobra para deixar o câmbio flutuar, como desejado, sem precisar disparar os juros. Mas por que mantêlo em 6,5%, ainda mais quando o PIB perde tração? O IBC-Br, índice do Banco Central que procura antecipar a tendência do PIB, caiu 0,74% em março, quando se projetava uma retração de 0,3%, e caiu 0,13% no trimestre.

O problema do Brasil é que, no “balanço de riscos", pesa a anomalia de déficits primários consecutivos acima de R$ 100 bilhões, e sem perspectiva de um necessário ajuste estrutural. Este é o alerta que o Copom emite para o futuro governo. Sem que este ajuste comece a ser feito, pela reforma da Previdência — adiada devido às fragilidades políticas de Temer pelo lado ético —, continuará esta vulnerabilidade brasileira em um mundo em ciclo de instabilidades, e não só econômicas.

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