Por Carolina Freitas e Raphael Di Cunto | Valor Econômico
SÃO PAULO E BRASÍLIA: O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula petista redobraram a aposta e tornaram mais distante ontem a possibilidade de o PT apoiar um candidato de outro partido na eleição presidencial ou lançar um nome alternativo. Pré-candidato à Presidência, Lula cumpre pena por corrupção passiva na Polícia Federal em Curitiba (PR), com sentença já transitada em julgado na segunda instância e deve ser declarado inelegível caso registre sua candidatura.
Em artigo publicado ontem no jornal francês "Le Monde" Lula deixou claro que vê uma retirada da candidatura como uma confissão de culpa. "Sou candidato a presidente do Brasil, nas eleições de outubro, porque não cometi nenhum crime", disse. "Para me prender, e tentar me impedir de disputar as eleições ou fazer campanha para o meu partido, tiveram que ignorar a letra expressa da constituição brasileira, em uma decisão provisória por apenas um voto de diferença entre 11 na Suprema Corte", afirma o petista no texto.
O artigo indica que o PT questionará a legitimidade do processo eleitoral caso Lula não possa participar. As eleições, de acordo com o ex-presidente, "só serão democráticas se todas as forças políticas puderem participar de forma livre e justa".
Em seu artigo para a publicação francesa, Lula descreve o Brasil atual como uma "pária em política externa", evitado por líderes internacionais e distante dos países vizinhos. O petista atribui a ascensão do presidente Michel Temer (MDB) a um "golpe parlamentar que abriu caminho para um programa neoliberal que havia perdido quatro eleições seguidas e que é incapaz de vencer nas urnas".
Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pela segunda instância da Justiça. Ele está preso há 40 dias, depois de perder um recurso julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Cresce dentro do PT a contestação à candidatura de Lula, ainda que a estratégia atual seja amplamente majoritária na sigla. Como reação a uma entrevista do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), ao jornal "Estado de S.Paulo", defendendo o apoio da sigla ao ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT), os líderes do partido na Câmara dos Deputados e no Senado divulgaram nota assinada por todos os representantes da legenda no Congresso, em que afirmam "a unidade em defesa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República". "Nesse cenário, a candidatura Lula se impõe ao partido e é a melhor alternativa à nação", afirma o texto. "Não podemos fazer concessões na luta em defesa da inocência e da manutenção dos direitos políticos de Lula', diz a nota.
Na entrevista publicada ontem, Santana disse que o PT não poderia apostar em um "isolamento suicida" e propôs que o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, fosse o vice de Ciro representando o PT.
O cearense disse ter conversado com o governador da Bahia, Rui Costa, com o do Piauí, Wellington Dias, e com o ex-governador baiano Jaques Wagner. Em entrevista ao portal UOL há seis dias, o governador do Piauí afirmou que Ciro Gomes era "um nome a ser tratado".
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