- Folha de S. Paulo
Voto dá aos cidadãos a sensação de que o processo de escolha dos dirigentes é justo
Tenho insistido na tese de que a democracia funciona, apesar do eleitor. Já escrevi um bom número de colunas tentando mostrar que vieses cognitivos e outras facetas não muito abonadoras da psicologia humana afastam definitivamente o voto do ideal de decisão informada e responsável.
De modo geral, o eleitor não só ignora os aspectos relevantes das questões que importam para a sociedade como nem sequer se preocupa em informar-se para fazer a escolha certa. Embora não o admita, ele costuma definir seu voto por impulsos emocionais e segundo critérios de fidelidade ao grupo a que pertence.
Até porque é mais divertido, tenho enfatizado o lado irracional dessa história, mas hoje pretendo destacar os mecanismos positivos, que fazem com que a democracia funcione. Apoio-me principalmente em “Democracy Despite Itself” (democracia apesar dela mesma), de Danny Oppenheimer e Mike Edwards.
O voto é importante porque dá aos cidadãos a sensação de que o processo de escolha dos dirigentes é justo. E as pessoas aderem melhor às regras de um sistema que acreditam ser justo e legítimo do que às de um que consideram viciado. Votações também têm a virtude de promover a moderação, ao fazer com que as posições extremistas se anulem.
Outro ponto é que eleições favorecem a alternância pacífica do poder, o que é fundamental para que as sociedades possam prosperar no longo prazo, sem temer a irrupção de guerras civis periódicas.
Por fim, de tempos em tempos o eleitor pune os políticos, removendo-os de seus cargos. Ainda que não o faça de forma coerente, essa simples possibilidade funciona como um estímulo para que os governantes se comportem bem, tentando manter suas promessas e tomando cuidado para não irritar suas bases.
Tudo isso e mais um pouco combinado tem servido para fazer com que um sistema baseado nas incoerências do eleitor acabe produzindo regimes viáveis, por vezes prósperos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário