O Acordo de Paris segue em frente com a definição, pela CoP-24, conferência do clima da Organização das Nações Unidas, encerrada no fim de semana em Katowice (Polônia), das regras pelas quais serão apresentadas, medidas e acompanhadas as metas de redução das emissões de carbono. Não houve definição sobre como deverá operar o mercado de créditos de carbono global nem, o que tem sido uma constante nessas conferências, sobre as obrigações de transferência de recursos das nações desenvolvidas para as mais pobres para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Apesar de 190 países chegarem a um consenso sobre alguns passos à frente seja positivo, os passos dado são tardios e insuficientes, à luz da urgência necessária, sublinhada pelo aumento recente das emissões e pelo quadro traçado pelos mais recentes relatórios científicos.
Em Katowice, não houve o esperado comprometimento com metas de redução de emissões de CO2 mais vigorosas. Manteve-se o cronograma de apenas em 2023, e a cada 5 anos, se proceder à verificação do cumprimento das metas e à avaliação de se os compromissos assumidos são suficientes ou não para evitar um aumento de 2 graus centígrados na temperatura global.
A insuficiência das decisões da CoP-24 pode ser constatada diante do relatório mais recente do IPCC, que pairou como um duro alerta sobre a conferência e foi acidamente criticado pelos Estados Unidos, Rússia - dois dos maiores poluidores mundiais - e Arábia Saudita. Se tudo continuar como está, o fim do século conviverá com um aumento de 3 graus centígrados e um rol de catástrofes ambientais de enorme poder destrutivo. O IPCC mostrou que é importante evitar que o aquecimento ultrapasse 1,5 graus, pois mesmo as consequências de se chegar a uma elevação de 2 graus já seriam muito danosas. Para isso, aconselhou o IPCC, seria imprescindível que as emissões atingissem seu pico já agora, em 2020, e começassem a declinar. Não há o menor sinal de que isto seja politicamente viável.
Há problemas em série nas conferências do clima, cujas resoluções parecem caminhar a passos de tartaruga. A necessidade de formação de consensos entre quase duas centenas de nações é um obstáculo importante, do qual resulta o mínimo denominador comum do politicamente viável. No entanto, é a forma com que os países escolheram para resolver o problema e não apareceu outra ainda.
Reuniões formais e periódicas entre os maiores poluidores - China à frente, com o dobro de emissões em relação aos EUA, o segundo maior, Rússia, Índia, Japão, Alemanha e Reino Unido, por exemplo - poderia acelerar drasticamente o combate ao aquecimento global. Com Barack Obama na presidência dos EUA, houve aproximação com os chineses para empurrar as conferências para a frente no bom caminho. Esse espírito de cooperação desapareceu e não há vontade política para uma iniciativa semelhante.
Para piorar, as conferências da ONU perderam seus líderes naturais. No lugar de Obama, os EUA têm como presidente Donald Trump, um contestador estridente da correlação entre a poluição causada pelas atividades humanas e o aquecimento global. Os EUA não apenas estão se retirando do acordo, como impulsionando novamente energias sujas que apenas agravarão o problema. Trump, que disse que se retira do Acordo de Paris, deslanchou uma guerra comercial com a China, de forma que os dois maiores emissores não conversam entre si sobre o ambiente.
A China assumiu um papel de relevo na CoP-24, mas é o maior poluidor do planeta e suas emissões continuam subindo e estão longe de atingirem o pico, coisa que deverá ocorrer apenas em 2030. Medidas mais drásticas pelo governo chinês são pouco prováveis, pois poderiam reduzir inicialmente a taxa de crescimento, já em desaceleração. E mesmo o bloco mais avançado na questão climática, a União Europeia, viu a redução das emissões de CO2 perder ritmo nos últimos anos.
O Brasil foi um dos grandes protagonistas das conferências da ONU, mas tornou-se objeto de desconfiança generalizada após o presidente eleito Jair Bolsonaro ter declinado de sediar a próxima CoP e seus auxiliares entoarem o coro americano, negando sua responsabilidade na luta contra o aquecimento global. O país deve cumprir sua meta de reduzir em 38% as emissões de gases-estufa em 2020, mas isso requer qualificação. O desmatamento na Amazônia voltou a crescer e prossegue a destruição do Cerrado. Não há qualquer indício de que isso será revertido no próximo governo.
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