O presidente Michel Temer entregará ao sucessor uma economia em marcha lenta, mas, de toda forma, em movimento e em condições de avançar mais velozmente, se o novo governo mantiver a confiança de dirigentes de empresas, consumidores e investidores. A expectativa de um crescimento de 1,30% em 2018, indicada por economistas do setor financeiro e de grandes consultorias, foi reforçada com a publicação dos últimos dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido informalmente como prévia do Produto Interno Bruto (PIB). O indicador de outubro foi 0,02% superior ao de setembro, apontando uma quase estabilidade depois do recuo de 0,16% no mês anterior. O crescimento acumulado no ano ficou em 1,40% e em 12 meses o ganho atingiu 1,54%, confirmando a tendência observada em vários meses. Nos quatro trimestres até setembro, o PIB aumentou 1,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os sinais mais claros de crescimento continuado têm surgido nas comparações com os números de um ano antes. Esse tem sido o caso dos dados do PIB e das informações setoriais apuradas mensalmente pelo IBGE. Também tem sido o caso do IBC-Br. O de outubro foi 2,99% maior que o de igual mês de 2017. O do trimestre findo em outubro superou por 2,16% o do período correspondente do ano anterior.
Os dados correspondentes ao período de janeiro a outubro e a 12 meses também mostram a tendência ainda positiva e a distância percorrida pela economia brasileira desde o fim da recessão, na passagem de 2016 para 2017. O crescimento poderia ter sido maior, mas as previsões publicadas até os primeiros meses deste ano foram frustradas.
Se o governo tivesse conseguido avançar na implantação de reformas, o ambiente nos mercados teria sido provavelmente mais favorável ao crescimento. Mas a agenda reformista foi interrompida quando denúncias irresponsáveis, com a chancela da Procuradoria-Geral da República e a aceitação do Poder Judiciário, acuaram o governo e o enfraqueceram politicamente. A persistência de um alto desemprego é parte do enorme preço pago por esse erro. Somaram-se a isso, neste ano, as incertezas políticas, ligadas essencialmente ao quadro eleitoral, e os danos causados pelo criminoso bloqueio de rodovias pelos caminhoneiros, em maio.
Incertezas políticas enfraqueceram a atividade econômica no primeiro trimestre. Houve fortes sinais de recuperação em abril, mas a crise do transporte em maio prejudicou a produção nos dois meses seguintes. A recuperação ainda foi dificultada, em seguida, pela tensão crescente no período mais próximo da eleição presidencial. Ainda assim, o País continuou a distanciar-se do atoleiro da recessão.
Apesar das oscilações, os dados parciais do IBGE continuam mostrando o movimento de recuperação, lento, acidentado, mas com tendência bem definida. Em outubro, a produção industrial foi 0,2% maior que em setembro. Foi uma variação modesta, mas o resultado superou por 1,8% o de um ano antes. Além disso, o crescimento em 12 meses foi de 2,3%, um número nada desprezível numa fase de consideráveis dificuldades políticas.
Ainda em outubro, o volume dos serviços acompanhados mensalmente pelo IBGE cresceu 0,1% em relação ao do mês anterior. O resultado foi 1,5% maior que o de outubro de 2017. O acumulado em 12 meses continuou negativo, com recuo de 0,2%, mas numa trajetória de clara recuperação.
A agropecuária continua contribuindo de forma importante para a expansão do PIB, pelo volume produzido e especialmente por sua participação no comércio exterior. Nos 12 meses até novembro, o valor exportado pelo agronegócio atingiu US$ 100,10 bilhões, 5,2% maior que o do período imediatamente anterior. O aumento do volume embarcado, que foi 5,3% superior ao dos 12 meses anteriores, expandiu a receita.
Avançar na pauta de reformas será uma das condições para o novo governo preservar as boas expectativas do mercado e as condições para intensificar o crescimento. Competência política será um requisito essencial para isso.
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