Em mais um sinal de que a estagnação toma aos poucos conta da economia, a produção industrial teve queda de 2,2% no primeiro trimestre do ano, o pior resultado para período semelhante desde que a recessão terminou, no fim de 2016. Em relação a março de 2018, o recuo foi maior, de 6,1% - e, pior, generalizado. Segundo o IBGE, ele atingiu 22 dos 26 ramos industriais, 60 dos 79 subgrupos e 63,7% dos 805 produtos pesquisados. O Iedi, think tank mantido por indústrias, tem cálculos igualmente desastrosos e teme que o setor tenha entrado em nova fase recessiva.
O ajuste para baixo sucessivo das projeções para o PIB já contavam com um desempenho da indústria mais modesto, mas o fechamento do trimestre mostrou resultados ainda piores do que o previsto pelos economistas ouvidos pelo Valor. As estimativas apontavam para um crescimento do setor de 3,3% no ano, já rebaixadas para 2% e começa a surgir a perspectiva de que simplesmente não haja expansão em 2019.
Nenhum dos motores que movem a indústria está agindo. As exportações, que consomem uma fatia da produção de cerca de 15%, estão desacelerando e a de manufaturados, mais ainda. O comércio global perde força e é um fator negativo, mas, no caso, a recessão na Argentina, um dos grandes consumidores de bens industriais, teve papel imediato mais relevante. Não se vislumbra um crescimento no país vizinho em ano eleitoral (a previsão é de recuo de 1,5% do PIB) - ao contrário, as incertezas devem aumentar.
Os investimentos não avançam e seria difícil que isso ocorresse em um ambiente de alto grau de ociosidade do parque fabril e baixíssima previsibilidade sobre a retomada das atividades. O destino da reforma da previdência poderia dar o primeiro sinal de que as finanças públicas caminharão, ainda que devagar, para o equilíbrio e agir fortemente sobre as expectativas. Não está claro ainda qual será o seu desenlace no Congresso.
Um indicador de investimento, a produção de bens de capital, cresceu 0,4% em março (ante fevereiro) e é positiva em 12 meses, mas a trajetória é de queda. Na comparação de março com março de 2018, houve um redução de 11,5%, a maior dentre as categorias. No trimestre, há um recuo de 4,3%. Outro indicador, a produção de insumos típicos para a construção civil, caiu 10% sobre fevereiro, 3,8% ante março do ano passado e cresceu mirrados 0,8% em 12 meses (Banco Fator). O futuro parece desanimador. Segundo Carlos Antonio Rocca, do Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec), a correlação entre a formação bruta de capital fixo acumulada em 4 trimestres e o PIB é de 95%.
O fator decisivo para uma indústria que atua em um mercado muito fechado para o mundo, a demanda doméstica, não reage. Ela acompanha a pasmaceira no mercado de trabalho, com o desemprego de 13,4 milhões de pessoas que não dá sinais consistentes de reversão e 25% da força de trabalho subutilizada. A insegurança sobre a permanência no emprego e a baixa probabilidade de quem não está trabalhando encontrar ocupação são travas poderosas ao consumo - e aos salários, que rastejam próximos da inflação em 12 meses.
O crédito para pessoas físicas aumentou, junto com os spreads bancários, mas um enorme contingente de consumidores ainda tem contas a ajustar com dívidas do passado. Assim, apesar do avanço do crediário, a produção de bens da linha marrom encolheu 16,7% no primeiro trimestre ante mesmo período de 2018, substancialmente maior que a queda dos bens de consumo duráveis, de 3,4%, e de 15,8% na comparação março a março.
O crédito a pessoas jurídicas evolui mais devagar. A indústria de transformação ainda digere dívidas. A margem líquida de lucro subiu, aponta Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi (Valor, 3 de maio). Em amostra de 131 indústrias, ela chegou 4,6%, ainda assim 1,1 ponto percentual abaixo da de 2014, pré-recessão. Setores mais sensíveis à renda, como os de alimentos, calçados, higiene e limpeza e eletroeletrônicos tiveram queda de rentabilidade. O endividamento líquido em relação ao capital próprio subiu de 87,1% para 96,1% de 2017 para 2018. A capacidade de gerar caixa para pagar dívidas ficou estável.
O consumo do governo está contido pela forte crise fiscal e pelo teto de gastos. Se os gastos continuassem crescendo à velocidade de 6% reais ao ano mantida entre 1997 e 2015, as despesas primárias de 2016 a 2018 seriam quase 20% maiores do que foram (Gilberto Borça Jr., Valor, 29 de abril). Faz diferença. Um pacote de estímulos à atividade está fora de cogitação.
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