- Blog do Noblat / Veja
Fardas maculadas
Entre Olavo de Carvalho, ex-astrólogo e autoproclamado filósofo, e os mais de 100 militares que já empregou no seu governo, o presidente Jair Bolsonaro preferiu ficar do lado do primeiro.
Pouco importa que Olavo tenha enxovalhado a imagem e a honra de generais da reserva que hoje ocupam ministérios e têm direito a gabinetes no Palácio do Planalto.
Pouco importa também que Olavo tenha descido ao fundo do poço e usado expressões chulas para debochar do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, gravemente enfermo.
Bolsonaro está com ele e não abre. A ficar solidário com os generais humilhados, defendeu a liberdade do seu guru de dizer o que quer: “Ele é dono do próprio nariz, como sou do meu”.
Há pelo menos duas razões para que Bolsonaro proceda assim. A conhecida: ele acha que deve sua eleição mais a Olavo do que aos militares. A oculta: Bolsonaro borra-se de medo de Olavo.
O presidente teme virar alvo dos insultos de Olavo e, por tabela, das hordas de fanáticos do falso filósofo nas redes sociais. Prefere, se esse for o caso, até mesmo se indispor com os militares.
Foi o falso filósofo que construiu parte do discurso com o qual Bolsonaro se elegeu. Foi ele que o orientou em momentos difíceis de sua campanha. Seus filhos são “olavistas” de quatro costados.
Mais de 57 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro, mas é Olavo a voz mais influente aos seus ouvidos. Embora costume falar grosso, Bolsonaro é conhecido como um fraco, um frouxo.
Não é um líder. Jamais liderou coisa alguma. No seu tempo de Exército era o que militares mais graduados chamavam de “um bunda suja”, aquele destinado a não subir na carreira. Não subiu.
Indisciplinado, arruaceiro, tomou cadeia no quartel, acabou expelido da farda, e seus filhos foram recusados como alunos em colégios militares. Agora parece vingar-se por tudo que passou.
Nada de parecido aconteceu antes com as Forças Armadas, nem mesmo quando elas bancaram o golpe de 64 e sustentaram a ditadura que se arrastou por 21 anos.
À época, seus comandantes foram duramente criticados pelos que se opuseram aos seus atos e denunciaram os seus crimes, mas as críticas jamais resvalaram para o plano pessoal.
“Não se atira nos nossos”, ensina um oficial da reserva da Marinha. Bolsonaro assiste Olavo atirar. E se tentam impedir que ele prossiga atirando, Bolsonaro sai em seu socorro.
Haverá limites para Olavo? Qual será o limite dos generais? Com todo o respeito: passar a mão na bunda deles está valendo?
O que o garoto quis dizer
Carlos, o dono das senhas do capitão
Em meio aos ataques desferidos contra os militares pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o vereador Carlos Bolsonaro, vulgo 02, postou no Twitter o seguinte comentário:
“Quando toda aquela parte da mídia (grobo, estabao, etc) começa a defender quem qualquer um jamais pensou que o fariam, pode ter certeza absoluta que ai tem muita, mas muita jogada. Mas quem somos nós nesse infinito estrelar, que na atual situação significa apenas ego? Brasil!”
Hábil torturador do idioma, Carlos exige, por vezes, o auxílio de um tradutor para que possa ser mais bem entendido. O que ele quis dizer com a mensagem acima?
Carlos está indignado porque a mídia em peso saiu em defesa dos generais enxovalhados por Olavo. Paranoico como é, vê nisso uma prova de que os generais e os jornalistas estão de conluio.
E manda subliminarmente outro pau nos generais quando pergunta: “Mas quem somos nós nesse infinito estrelar, que na atual situação significa apenas ego?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário