Apoio de Bolsonaro revigora ministro, porém, proximidade do Planalto com o centrão é ameaça
Na instabilidade que caracteriza o governo, reflexo do próprio chefe, a manhã de ontem foi de recuperação do ministro da Economia, Paulo Guedes, colocado à margem nos últimos dias, enquanto ganhava espaço no Planalto a alternativa “desenvolvimentista” do programa Pró-Brasil, um arremedo de plano de obras de infraestrutura, a serem financiadas basicamente por dinheiro público. Por ser uma iniciativa que vai na contramão do que pensam corretamente Guedes e equipe, fizeram-se apostas em que, depois da queda de Sergio Moro, um dos dois “superministros” que tomaram posse em janeiro de 2019, estaria sendo finalizado o cadafalso para o outro.
Depois da oportuna conversa de realinhamento mantida no início do expediente no Palácio da Alvorada com Bolsonaro, Paulo Guedes ouviu do próprio presidente, ao seu lado, diante de microfones e câmeras, que ele “é o homem que decide a economia no Brasil”. Do ministério estavam presentes a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, muito interessada na melhoria da malha de transportes e de portos, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, que com o Pró-Brasil ou sem ele tem projetos importantes a viabilizar, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, da equipe de Guedes.
Não se sabe se o “Posto Ipiranga” da campanha, dono de todas as respostas econômicas do candidato Bolsonaro, foi reinaugurado. Mas no momento em que anda com o espírito especialmente conturbado, foi a mais sensata decisão que Bolsonaro tomou. Ao falar depois do presidente, Paulo Guedes voltou a garantir que o Brasil não estará no caminho da Argentina e da Venezuela — casos de fracasso na política e na economia — e prometeu que passada a “primeira onda”, da crise na saúde, o país enfrentará a “segunda”, da economia, e sairá dela “mais forte”.
O ministro se referiu ao Pró-Brasil como um conjunto de “estudos” de projetos de infraestrutura e construção civil, para ajudarem na retomada do crescimento, mas dentro da política de recuperação da estabilidade fiscal, sem revogar o teto dos gastos. Cifras bilionárias de investimentos que constam da apresentação do Pró-Brasil, resumida pelo ministro Braga Netto em uma entrevista de balanço da epidemia, são apenas estimativas, segundo Guedes, nada para valer. Até porque se o país entrou na epidemia com um déficit anual estimado em R$ 124 bilhões, a crise deve multiplicá-lo por cinco vezes ou mais. Não há espaço para mais gastos.
O presidente, porém, precisa de resultados e traz à flor da pele temores políticos e eleitorais. Por isso quer apressar o fim do isolamento social, a qualquer custo, para a economia estar em crescimento ainda este ano e principalmente em 2022. Paulo Guedes continuará sem vida fácil também devido à aproximação de Bolsonaro com políticos do centrão. Valdemar Costa Neto (PL), Roberto Jefferson (PTB), Ciro Nogueira (PP), entre outros, não gostam de governos austeros. E é por meio deles que Bolsonaro buscará uma blindagem contra qualquer pedido de impeachment.
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