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Bolsonaro recua, mas dá razão a Moro
A reunião foi tensa e os ministros militares com gabinetes no Palácio do Planalto levaram muitas horas para convencer o presidente Jair Bolsonaro a desistir da nomeação de Jorge Oliveira, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, para a vaga de ministro da Justiça aberta com a demissão de Sérgio Moro.
Argumentaram que Oliveira na Justiça e o delegado Alexandre Ramagem na direção da Polícia Federal seriam vistos como uma solução caseira que exporia Bolsonaro a críticas e que poderia ser anulada pelo Supremo Tribunal Federal. De resto, reforçaria a acusação de Moro de que ele quer aparelhar o ministério.
Bolsonaro ouviu outra vez o argumento de que seu governo poderia chegar ao fim antes da hora por causa de uma série de erros que ele tem cometido – os mais recentes, a demissão de Henrique Mandetta do Ministério da Saúde em meio a uma pandemia e a saída de Moro, o ministro mais popular de todos.
No início da tarde, ao aparecer na rampa do Palácio do Planalto a pretexto de procurar “inspiração”, como disse, mas na verdade só para ser fotografado, Bolsonaro já havia se rendido às pressões dos generais e se fixado no nome do advogado-geral da União André Luiz de Almeida Mendonça para ministro da Justiça.
Isso não o impediria de, no final da tarde, ao retornar ao Palácio da Alvorada e esbarrar em jornalistas, mentir ao sugerir que Oliveira iria para o Ministério da Justiça. Quanto a Ramagem, deu munição de graça aos seus adversários para que afirmem que sua nomeação atende às conveniências da família presidencial.
“[Ramagem] ficou novembro e dezembro, praticamente, na minha casa. Dormia na casa da vizinha, tomava café comigo. Aí tirou fotografia com todo mundo”, disse Bolsonaro. “Foi no casamento de um filho meu. Não tem nada a ver a amizade dele com o meu filho, meu filho conheceu ele depois. E eu confio nele”.
Moro exultou com a declaração de Bolsonaro. No que de fato importa (a nomeação de Ramagem), ela significa que o presidente quer no comando da Polícia Federal alguém que possa protegê-lo e aos seus filhos. Não será tão fácil como ele imagina. A Polícia Federal é uma corporação que se dá ao respeito.
O tiro que Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, deu no próprio pé
Que prossigam os trabalhos
Está pronta e assinada a decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, de negar o pedido feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem partido) para que seja encerrada a CPI Mista das Fake News. A decisão será anunciada hoje.
Instalada em setembro do ano passado, a CPI deveria ter encerrado seus trabalhos no último dia 14. Mas o prazo de funcionamento foi prorrogado por mais 180 dias, exigência de 34 senadores e 209 deputados. O Zero Três não gostou disso.
Entrou então com um mandato de segurança no Supremo alegando que a CPI tem se prestado a perseguir apoiadores do seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. Se não fosse possível barrar sua continuação, que se anulassem algumas de suas sessões.
Que sessões? Aquelas onde ele, Eduardo, foi alvo de denúncias. Numa delas, a deputada Joyce Hasselman (PSL-SP), ex-líder do governo na Câmara, apresentou provas de que Eduardo é ligado a um esquema de distribuição de falsas notícias.
Com a decisão de Gilmar, a CPI voltará a funcionar – desta vez virtualmente, até que passe a pandemia do coronavírus. A CPI e o inquérito sobre Fake News presidido no Supremo pelo ministro Alexandre de Moraes aterrorizam a família Bolsonaro. Com razão.
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