- Folha de S. Paulo
É preciso atenção para não cair em armadilhas que podem causar confusão
Jornalistas adoramos rankings e comparações entre países —e por bons motivos. A contextualização costuma ser uma rota eficaz para a compreensão. É preciso, porém, cuidado para não cair na armadilha das comparações que confundem mais do que esclarecem.
É o caso, infelizmente, das tabelas e gráficos que põem lado a lado o número de casos e de mortes por Covid-19 em vários países. Esses dados, frise-se, são importantes para uma série de mensurações, mas a comparação direta deles revela pouco.
O ponto central é a testagem. Como cada país tem uma política diferente de testagem, o número de casos confirmados e outros indicadores que dependem dele, como a morbidade por 100 mil habitantes e a taxa de letalidade, se tornam incomensuráveis. Um país que só teste doentes graves terá, por definição, uma letalidade alta, enquanto um que vá atrás até de pacientes assintomáticos apresentará um índice mais baixo (e mais próximo do real). Há que considerar ainda que diferentes países estão em diferentes fases da epidemia.
Contar só os mortos em vez dos doentes diminui o espaço para o erro, mas não o elimina. É difícil desaparecer com o cadáver, mas dá para fazer muita bagunça com a causa da morte. O governo da Bélgica, por exemplo, afirma que a alta mortalidade por Covid-19 registrada no país se deve à transparência com que apresenta os números. Ele contabiliza na coluna dos óbitos todos os casos suspeitos, mesmo sem confirmação laboratorial.
Uma comparação objetiva do desempenho de cada país poderá ser feita depois que epidemiologistas, de posse dos dados relevantes, como o excesso de mortes e os resultados das investigações sorológicas, traçarem o quadro completo de como cada nação se saiu.
O que dá para dizer por ora é que países que conseguiram evitar o colapso dos sistemas de saúde estão lidando melhor com a crise do que os que deixaram suas UTIs lotarem.
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