- Folha de S. Paulo
Após sabotar luta contra coronavírus, presidente dá palanque a marginais antivacinas
Depois de sabotar quase todos as ferramentas conhecidas para conter a propagação do coronavírus, Jair Bolsonaro resolveu se antecipar. Enquanto cientistas trabalham nos laboratórios, o presidente disse a apoiadores que "ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina".
Não há discussão em curso sobre os métodos dessa imunização, mas Bolsonaro já fez questão de jogar holofotes sobre grupos marginais que fazem propaganda contra a vacinação. O Planalto ainda deu uma força à campanha e transformou a frase do presidente em pôster nas redes, dizendo que o governo "preza pelas liberdades dos brasileiros".
Bolsonaro, como se sabe, é um político que vê a ditadura como modelo. Considera heróis os homens que torturavam militantes para forçá-los a delatar seus companheiros, mas gosta de falar de uma tal liberdade para pintar com cores altivas algumas de suas delinquências.
Em sua cruzada contra governadores e prefeitos, ele dizia que as medidas de distanciamento para enfrentar a pandemia eram autoritárias. "Não quero mais ditadura no Brasil. Quero liberdade. Cadê o meu direito de ir e vir?", perguntou, em maio.
O presidente ainda tentou vetar o uso compulsório de máscaras no comércio, em escolas e nas igrejas. O governo alegou que a obrigatoriedade provocaria uma "possível violação de domicílio", embora a lei aprovada não falasse sobre residências.
Um conceito distorcido de liberdade é explorado por Bolsonaro para satisfazer seus interesses políticos. Pela manhã, ele usa esse argumento ao defender extremistas que clamam por um golpe. À tarde, esquece o assunto e gira sua máquina para processar e intimidar jornalistas.
Bolsonaro não aceita forçar o cidadão a proteger a sociedade do coronavírus, mas quer obrigar a mulher vítima de estupro a passar por um processo humilhante se quiser exercer seu direito de abortar. A portaria do Ministério da Saúde que cria obstáculos nesses casos só serve para dificultar o cumprimento da lei. A liberdade ficou pelo caminho.
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