Às vezes, o presidente Bolsonaro surpreende a todos. Outras não surpreende ninguém.
Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral
da ONU, na terça, Bolsonaro foi exatamente o que esperávamos:
colocou a culpa nos outros, espalhou teorias da conspiração e propagou
inverdades já contraditas. Nada de novo sob o sol: as queimadas na Amazônia são
culpa dos índios, a crise atual no Brasil é culpa da mídia e inação do seu
governo frente à pandemia é culpa do Judiciário.
O Brasil é tradicionalmente o país que abre o evento máximo da ONU desde 1955, exatamente por ter se consolidado como um interlocutor respeitado por todas as partes. No passado. Atualmente, são 20 minutos de vergonha nacional, que teremos que aguentar, aparentemente, por mais dois anos.
O Brasil foi um dos fundadores da organização, em 1945, e ator
crucial na escrita da Carta de São Francisco, momento em que a humanidade
atingiu o seu ápice na cooperação. Nossa representante na conferência, Bertha
Lutz, é creditada com a inclusão da igualdade de gênero no documento. Coitada
da Bertha Lutz e coitada da igualdade de gênero.
Por 74 anos, o Brasil contribuiu
para um mundo que respondesse aos seus desafios comuns de maneira conjunta. Não
mais.
O "nacionalismo" é um
dos esteios do governo Jair Bolsonaro. É um discurso fácil, que apela a uma
comunidade imaginada para unir seus apoiadores como se eles estivessem ali
cumprindo uma missão. Nada como dar objetivo aos iludidos. Mas é um
nacionalismo barato, que não protege as nossas florestas, não protege os nossos
cidadãos mais vulneráveis e não protege a nossa reputação no mundo. Mas fica
bonito, para alguns, no discurso.
Brasil acima de tudo." Qual Brasil? Porque o nosso está queimando, com fome e morrendo de Covid-19.
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