Não bastasse o tom paroquial e conspiratório, a fala de Jair Bolsonaro foi repleta de inconsistências
Em discurso reativo e agressivo, Jair Bolsonaro responsabilizou governadores pela má condução da pandemia e atacou a imprensa por incitar o pânico ao pedir às pessoas que ficassem em casa. Ao mesmo tempo, elogiou ruralistas por respeitarem “a melhor legislação ambiental do planeta”, militares por sua participação em operações de paz, além dos liberais, responsáveis pela “comprovada confiança” do mundo no governo. Aproveitou para denunciar as inúmeras perseguições por ele sofridas, fruto de uma maligna aliança de conspiradores internacionais e brasileiros “impatrióticos”.
Poderia ser somente um dia qualquer no cercadinho do Alvorada, mas foi a mensagem do Brasil às Nações Unidas. Não bastasse seu tom paroquial e conspiratório, a fala foi repleta de inconsistências: dados equivocados sobre comércio e investimentos, informações controversas sobre as queimadas no Pantanal e na Amazônia (que descobrimos ser culpa de “índios e caboclos”), promessas vazias sobre o compromisso brasileiro com as boas práticas internacionais.
A cereja do bolo foi um chamado global para combater a “cristofobia”. É inegável que a perseguição a cristãos seja um problema em várias partes do mundo – como na Índia ou na Arábia Saudita, aliados de primeira hora da diplomacia bolsonarista. Mas aqui o problema é outro: enquanto católicos e evangélicos exercem livremente sua religião, minorias religiosas de matriz afro-brasileira são perseguidas pelos mesmos cristãos que reivindicam sua liberdade em nível global.
Curioso e sintomático Bolsonaro ter começado seu discurso falando sobre a importância da verdade. Uma pena que, no Brasil fantasioso narrado no palco mundial, onde pobres ganharam mil dólares de auxílio emergencial e a cloroquina curou a covid-19, a verdade seja produto em falta.
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