Paulo Guedes não era fã de deputados e senadores quando chegou a Brasília. Apesar de ter chancelado a campanha de um candidato que havia passado três décadas no Congresso, o ministro usava a expressão "criaturas do pântano político" para se referir a grupos que "se associaram contra o povo brasileiro".
Por quase dois anos, ele se queixou desses monstrengos.
Sugeriu dar uma "prensa" nos parlamentares, disse que eles não se
importavam com as criancinhas e ainda rompeu com o presidente da Câmara.
Agora, algo mudou —e não foram os políticos. O ministro
afirmou a aliados que vai abrir portas de estatais e outros órgãos para o
centrão. Segundo uma reportagem da Folha,
Guedes avisou que vai discutir com o Planalto nomes indicados pelos partidos que apoiam o
governo.
Mais que uma jogada pragmática, trata-se de uma
capitulação. Além de demolir de vez o discurso de Jair Bolsonaro contra o
loteamento de cargos, a decisão fragiliza ainda mais a agenda de privatizações
de Guedes. Ocupar empresas com políticos é a maneira mais eficaz de garantir
que eles continuem por lá.
O ministro reconheceu que o centrão dá as cartas na
política e na economia. Até aqui, o Congresso fez o que quis: impediu reduções
de benefícios sugeridas por Guedes, aumentou o auxílio emergencial proposto
pelo governo e aprovou o perdão de dívidas das igrejas com a Receita.
Ele percebeu também que não pode contar com o próprio
chefe para salvá-lo desses dribles. Guedes protestou e conseguiu que Bolsonaro
barrasse a anistia para os líderes religiosos. Na mesma hora, o presidente
incentivou uma traição ao ministro com a derrubada do veto.
Fragilizado, Guedes decidiu se associar aos parlamentares
do centrão no momento em que sua plataforma se torna alvo de questionamentos
até de investidores. A manobra dá ao ministro algum
poder de barganha em Brasília, mas o histórico da relação sugere que as
"criaturas do pântano político" continuarão no comando dessa agenda.
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