terça-feira, 24 de novembro de 2020

Antonio Fausto* - Getúlio Vargas e o Centro Democrático

Em 130 anos de República, o segundo governo Vargas (1951/1954) foi o primeiro, politicamente, do Centro Democrático. Foi candidato em 1950 pelo PTB, por ele fundado, contra os postulantes do conservadorismo, um deles cristianizado pelo próprio partido, o bom e velho PSD.

O PTB de então congregava políticos progressistas como Roberto Silveira, Leonel Brizola, Almino Affonso e tantos outros que, ao lado de forças centristas, viabilizaram o novo governo eleito, após cinco anos de conservadorismo, arrocho salarial e repressão ao movimento sindical e associativo dos trabalhadores.

O presidente Getulio Vargas faz, então, um bom governo, corrige o salário mínimo, adota pela primeira vez no País o planejamento indicativo, via uma assessoria econômica, onde figuravam técnicos de destaque como Jesus Soares Pereira e Ignácio Rangel.

É fundada a Petrobrás, o BNDES, o Banco do Nordeste do Brasil e criados grupos de trabalho embrionários das futuras Sudene e Sudam, como forma de enfrentamento dos desequilíbrios regionais.

Deposto pelo golpismo civil-militar, a serviço de interesses estrangeiros e oligárquicos nacionais, o presidente Vargas inaugurou, historicamente, um ciclo de governança do Centro Democrático, durante 14 anos, que se encerra com a deposição, pelas mesmas forças golpistas e antinacionais, do presidente João Goulart.

Após vinte anos de regime militar, o Centro Democrático ressurge na eleição de Tancredo Neves, pelo Colégio Eleitoral da ditadura, um feito político de grande valor histórico, que não se efetivou pela morte do presidente, e o exercício efetivo do Poder pelo então vice, José Sarney, cujo governo teve o mérito do encaminhamento da transição, da convocação da Constituinte, mas que termina hegemonizado pelo Centrão congressual e ideológico.

O último governo do Centro Democrático foi do presidente Fernando Henrique Cardoso, em dois mandatos, ganhos no primeiro turno, com o mérito da completude da transição democrática e, com o Plano Real, o enfrentamento da hiperinflação e outras mazelas da economia.

A depender do resultado do segundo turno das eleições municipais em curso, esboça-se, para 2022, o retorno ao Poder Central do Centro Democrático, que se tem mostrado o arranjo político-institucional mais condizente com a governabilidade, o progresso social e a democracia. A ver.

 *Antonio Fausto, economista

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