Presidente
tem compulsão para fantasiar
É
inútil esperar coerência de Jair Bolsonaro. Afinal, ele atravessou as últimas
90 semanas sem se importar com os fatos ou a realidade. Seu compromisso é com a
reeleição. E só.
Num
encontro virtual de líderes do G-20, sábado, decretou a inexistência de racismo
no Brasil. Repetia o cadete 531 da Aman em 1977. Àquela hora, enterrava-se João
Alberto Silveira Freitas — “pessoa de cor”, definiu o vice Hamilton Mourão—,
assassinado por vigilantes dentro do Carrefour em Porto Alegre. Bolsonaro
encontrou nos protestos antirracistas os subversivos de sempre, que tentam
“importar para o nosso território tensões alheias à nossa história”.
Viajou a Macapá, onde reluz nova obra da sua imprevidência administrativa: o apagão que inferniza a vida de 800 mil pessoas. Incendiaram-se dois transformadores, e o da reserva está há um ano “em manutenção”. Responsável pela segurança energética, o governo deixou nas trevas 143 mil quilômetros quadrados do território nacional.
Sob
a luz do sol, Bolsonaro prometeu um futuro iluminado e abandonou o Amapá antes
do breu noturno. Poderia ter esticado o passeio até São Paulo, onde a
negligência governamental deixou encalhar quase sete milhões de testes para o
novo coronavírus cuja validade vence nos próximos 40 dias, como revelou o
repórter Mateus Vargas.
Voltou
à cúpula do G-20 se autoelogiando na condução do “gigante pela própria
natureza”. Proclamou: “Vamos continuar protegendo nossa Amazônia, nosso
Pantanal e todos os nossos biomas”. Omitiu que, até 31 de agosto, o governo só
gastou R$ 105,4 mil na execução da política ambiental. Nem falou do plano (PPA
20-23) em que transfere a quase totalidade dos R$ 140 bilhões do orçamento do
Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura.
Bolsonaro tem compulsão para fantasiar. Em 1988, o vício custou-lhe a exclusão da escola militar. Virou manchete no “Noticiário do Exército” (nº 7449) por “faltar com a verdade e macular a dignidade militar”. Na Presidência, mentiras são mais perigosas. Ocultam o pandemônio governamental, mortífero numa pandemia.
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