Centro-direita
larga fragmentado para 2022
Os
ingredientes da eleição para prefeito de uma cidade média no sertão paraibano
alçaram-na ao patamar de microcosmo político do país, na visão de alguns
cientistas políticos.
Projetando-se
o cenário local para o plano nacional, em um criativo exercício de análise
política, o resultado da eleição em Patos, na Paraíba, colocaria em xeque o
sucesso de uma eventual chapa encabeçada pelo ex-ministro da Justiça Sergio
Moro em 2022.
Uma
premissa somente autorizada, ressalte-se, no contexto da recuperação da
política tradicional como principal resultado do primeiro turno das eleições
municipais.
Com
108 mil habitantes, o terceiro reduto de poder mais cobiçado da Paraíba -
depois de João Pessoa e Campina Grande - foi palco de uma eleição acirrada,
polarizada entre um “outsider” e um representante da “velha política”.
De
um lado, concorreu o Juiz Ramonilson Alves, postulante do Patriota, que se
aposentou para ingressar na política; na outra ponta, o ex-prefeito Nabor
Wanderley, candidato do Republicanos.
Chamado
de “Moro da Paraíba”, o Juiz Ramonilson encabeçou a chapa, com o DEM na vaga de
vice. Nos discursos, afirmava que a solução para a cidade passava pelo combate
intensificado à corrupção e pelo fim do monopólio político local.
Seu
adversário era um legítimo representante da política tradicional, encabeçando
uma coligação formada por Republicanos, PP, PSD, PSL, Rede e Cidadania. Nabor
governou a cidade duas vezes, de 2005 a 2012.
Nabor
respondeu a denúncias de corrupção, muitas delas julgadas por Ramonilson. No
horário eleitoral e em entrevistas, acusou o ex-magistrado de persegui-lo há
muitos anos, desde sempre com finalidades eleitorais.
Ao
fim de um embate acalorado, Nabor alcançou 51% dos votos, contra 41% do Juiz
Ramonilson. Um resultado local que refletiu o quadro verificado no plano
nacional, considerado o placar das capitais e principais cidades brasileiras: a
vitória da política tradicional sobre a “nova política”, da qual Jair Bolsonaro
foi o expoente em 2018.
“A
eleição municipal restaurou o sistema político, o “outsider” perdeu valor no
mercado político e o centro institucional saiu consagrado”, disse à coluna o
cientista político Nelson Rojas de Carvalho, professor do programa de
pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ).
Para
ele, este resultado reduz as chances de “players” de fora da política cotados
para a sucessão presidencial, como Sergio Moro e Luciano Huck.
O
pesquisador aponta a derrota da “nova política” neste pleito, mas, não a do
presidente Jair Bolsonaro como cabo eleitoral. Isso porque a eleição municipal
não tem determinantes nacionais, mas, sim, consequências no plano nacional.
“A
eleição municipal tem uma dinâmica local que gera efeitos nacionais”, argumenta
o autor de “E no início eram as bases - Geografia política do voto e
comportamento legislativo no Brasil”.
Ele
aponta dois efeitos principais do pleito municipal no âmbito nacional: uma
configuração mais sólida do quadro sucessório, e a composição de forças no
Congresso Nacional na próxima legislatura.
O
primeiro efeito do pleito municipal na sucessão presidencial, na visão de
Nelson Rojas, é a fragmentação das forças de centro-direita, que tendem a
avançar separadamente após o resultado deste ano.
Para
o pesquisador, o desempenho do DEM, principalmente nas capitais, levará o
partido a lançar candidatura própria em 2022. “O partido não aceitará ser vice
do PSDB de novo”.
Um
dos nomes colocados é o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Correm
por fora o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia.
No
primeiro turno, o DEM reelegeu Rafael Greca, em Curitiba; Gean Loureiro, em
Florianópolis; elegeu Bruno Reis em Salvador; e avança rumo à vitória de
Eduardo Paes, que deverá governar o Rio de Janeiro pela terceira vez.
De
igual forma, se o PSDB reeleger o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, não terá
por que renunciar à cabeça de chapa na disputa presidencial em 2022. O nome
mais provável é o do governador João Doria, embora o governador do Rio Grande
do Sul, Eduardo Leite, também seja cotado para a empreitada.
Mas
se Covas for à lona, abatido pelo ativista Guilherme Boulos (PSOL), “o PSDB se
perde”, e ficará difícil encabeçar a chapa, diz Nelson. Em especial, após o
desempenho de Geraldo Alckmin em 2018, que obteve 4,7% dos votos válidos.
No
espectro da esquerda, o pesquisador vê Ciro Gomes (PDT), ou um candidato
apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais competitivos numa
conjuntura de crise econômica, em um paralelo com a Argentina, onde a derrocada
levou à vitória de Alberto Fernández.
“Se
a economia chegar em 2022 em um diapasão tolerável”, as chances aumentam para a
centro-direita”, diz o professor, que foi colunista convidado do Valor.
O
segundo reflexo das eleições municipais na conjuntura nacional, segundo Nelson
Rojas, vai se consumar na eleição dos deputados federais e senadores para a
legislatura de 2023-2026.
Ele
afirma que a nova correlação de forças que emerge da eleição municipal vai se
refletir na composição do novo Congresso, e os partidos que elegeram mais
prefeitos serão hegemônicos no Legislativo. As seis siglas que mais
conquistaram ou preservaram prefeituras foram MDB, PP, PSD, PSDB, DEM e PL,
todos representantes do centro político.
Nelson discorda da interpretação de que o primeiro turno das eleições municipais foi um “plebiscito” sobre o governo Bolsonaro. Ele acha equivocado atribuir o mau desempenho do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), ao apoio de Bolsonaro. O presidente perdeu, na sua visão, ao não conseguir organizar o seu partido, e com ele, ocupar espaço no pleito municipal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário