O Globo
"Os porquinhos 01, 02 e 03, meus
companheiros de fábula, poderiam ter lhe contado que, bufando, se consegue
muita coisa, não tudo"
Sr. presidente (ou candidato — nunca sei ao
certo),
Invadi o provedor que o Elio Gaspari usa
para fazer chegar aos vivos (principalmente aos muito vivos) certas mensagens
do Além e valho-me dessa tecnologia de ponta para me dirigir ao colega, daqui
do mundo das fábulas, onde bichos falam, e toda história tem uma moral.
Permita que me apresente e justifique a
intimidade de tratá-lo de igual para igual: sou o Lobo Mau, aquele que
contribuiu para o aumento do déficit habitacional entre os porquinhos, fez
disparar a taxa de mortalidade de cordeiros e vovozinhas e lançou mão de
feiquenius para tentar devorar Chapeuzinho Vermelho.
Tenho percebido, de sua parte, a apropriação de muitas das minhas estratégias — e não posso me furtar a lhe lembrar que elas nem sempre deram certo.
Como eu, o senhor bufou e mandou pelos ares
a casa de palha. Bufou, bufou e derrubou a casa de pau. Animado com o sucesso,
bufou, bufou, bufou e... não conseguiu pôr abaixo a casa erguida com cláusulas
pétreas. Os porquinhos 01, 02 e 03, meus companheiros de fábula, poderiam ter
lhe contado que, bufando, se consegue muita coisa, mas não tudo.
O senhor se travestiu de liberal na
economia, assim como eu de vovozinha. Mas as orelhas grandes, que fizeram
ouvidos de mercador às demandas pela reforma administrativa e por um modelo
fiscal mais justo, ficaram de fora. O nariz grande, que farejou vantagens na
manutenção da TV estatal e da empresa do trem-bala, também. O olho grande, que
insistiu em intervir na Petrobras e travou as privatizações, idem. Por fim, a
boca grande mastigou o equilíbrio fiscal e engoliu o teto de gastos. O senhor
vai levar um susto maior que o meu quando o caçador entrar em cena — e olha que
eu tinha imunidade por ser espécie em via de extinção.
Sua pinimba com as urnas eletrônicas é
plágio descarado daquele meu entrevero, às margens do riacho, com o cordeiro.
Nunca foi segredo que eu quisesse porque quisesse comê-lo, mas precisava de uma
boa desculpa. Inventei que ele sujava a água que eu bebia. Isso seria
impossível, haja vista ele estar 20 passos adiante de mim, no sentido da
correnteza. Criei outras narrativas (se não era ele, era o irmão dele etc.),
mas sem chegar ao ponto de sugerir que a direção em que corria o riacho não
fosse auditável. Um lobo, ainda que mau, tem seus limites lógicos e éticos.
Fosse o senhor, mesmo com os goles d’água impressos, um novo pretexto seria
fabricado.
Sabemos do triste fim do cordeiro (triste
para ele, não para mim, que o comi tão logo desmontou minha terceira ou quarta
falácia). Quanto ao senhor, prepare-se: até o mais cordial dos cordeiros já
aprendeu que bom cabrito é o que mais berra.
O pastor que gritava “é o lobo, é o lobo!”
quando eu nem estava nas imediações teve sérios problemas no dia em que resolvi
assuntar o rebanho. Os aldeões já estavam dessensibilizados para a ameaça.
Em outro momento, minha amiga raposa@uva
entrará em contato para lhe falar de um golpe que ela tentou aplicar, o “as
urnas estão verdes”. Não colou. E leão@rei manda dizer que deu boas gargalhadas
com a PEC do senador vitalício.
Um abraço fraterno do
Lobo Mau.
Um comentário:
Parece coisa de fáula mesmo,mas o Bozo é real,desgraçadamente real.
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