Folha de S. Paulo
Reforma da Previdência francesa poderá
aposentar precocemente o centrismo
Os franceses não curtiram a reforma
previdenciária do presidente Emmanuel Macron, como denotam as manifestações que
já levaram milhões às ruas. O que mais incomoda a população é a elevação da
idade mínima para a aposentadoria de 62 para 64 anos. Democracia é isso mesmo.
Governos propõem leis e quem é contra tem todo o direito de protestar. Apenas a
violência pode e deve ser reprimida.
Só que protestos não fazem sumir os problemas reais, e a França tem um problema real no sistema de pensões. O país adota um regime de repartição pura. Isso significa que são contribuições dos trabalhadores da ativa que pagam as aposentadorias. Esse sistema funciona bem quando a demografia é favorável, isto é, quando não há falta de jovens no mercado. Mas esse já não é mais o caso da França. Em 1950, quatro trabalhadores financiavam um aposentado; em 2040, estima-se, será apenas 1,3. Não é difícil ver que uma hora a coisa estoura.
Mudar as regras para os benefícios é a
fórmula clássica para lidar com isso, mas não a única. Os franceses poderiam
sair da repartição pura, adotando um sistema misto, com contribuições
individuais complementares. Também poderiam ampliar o estoque de trabalhadores
na ativa pela imigração. Outra saída é usar impostos para custear a
Previdência. As duas primeiras não são as favoritas dos franceses. A terceira
esbarra num outro problema. A França já tem uma das maiores cargas tributárias
do mundo. Aumentá-la geraria em algum momento ineficiências econômicas.
Os franceses acabarão resolvendo o impasse,
ou empurrarão o problema para as próximas administrações e gerações. O que me
preocupa é que a crise deixa uma ferida potencialmente letal não só no grupo
político de Macron mas em todo o campo dos moderados. Meu palpite é que no
próximo pleito presidencial teremos um embate entre a extrema direita de Marine
Le Pen e a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon.
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