Folha de S. Paulo
Perto da inelegibilidade, emplacar
candidatura da ex-primeira-dama é o que resta ao capitão
Ao voltar ao país após a temporada
turística de três meses nos EUA, Bolsonaro vetou a
candidatura da mulher, Michelle, ao Palácio do Planalto em 2026. Das
duas, uma: ou o ex-presidente está mentindo como sempre ou não manda mais nada.
Presidenta do PL Mulher, Michelle já se considera candidata, reforçando a imagem de uma mulher ligada a valores conservadores, ao lar e à família, mas com direito a ocupar o espaço público. No Brasil de hoje, é capaz de colar. A ex-primeira-dama age sob efeito da mosca azul do poder —e o responsável pela mordida foi o próprio Bolsonaro, que a fez entrar na campanha de 2022 numa tentativa de reverter a rejeição do voto feminino e de reforçar o apoio entre os evangélicos. Ao contrário de Bolsonaro, Michelle saiu vitoriosa.
Em entrevista à Folha, a socióloga
Esther Solano concedeu
ao bolsonarismo status de movimento estruturado dentro da sociedade brasileira
e apontou Michelle e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como
herdeiros do ex-presidente. O caminho dela, no entanto, será cheio de
obstáculos: eleitores de Bolsonaro não parecem concordar em ver a mulher
ocupando uma posição mais alta; os mais tóxicos chegam a odiar mulheres.
A força de Michelle —que precisa tomar
aulas de geografia, para não perder eleitores ao chamar Pernambuco de cidade—
está na desgraça do marido. Sem foro privilegiado e perigando ser preso a
qualquer hora, Bolsonaro está perto da inelegibilidade. Punição que, justiça
seja feita, ele buscou incessantemente ao longo da carreira de deputado do
baixo clero e presidente golpista.
Como legado dos quatro anos em que atuou
para destruir o país, não terá nem as joias árabes guardadas
no mocó de Nelson Piquet. Sob as ordens de Valdemar Costa Neto, o capitão será
cabo eleitoral. No futuro, se a jogada der certo e ele se comportar direito em
casa, poderá manter a pose de primeiro-cavalheiro.
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