O Estado de S. Paulo
A política econômica do Brasil, seja qual for
o governo da vez, terá de enfrentar três grandes problemas de longo prazo.
Não entra nesta lista a questão fiscal. O
equilíbrio das contas públicas é pressuposto para o sucesso de qualquer
política macroeconômica.
Um desses desafios já foi tratado aqui no dia
29. Trata-se de ajustar a economia aos tempos do rápido envelhecimento da
população. O Brasil vai perdendo o chamado bônus demográfico, vai perdendo
produtividade do trabalho em consequência do aumento de idade.
Esse imperativo demográfico muda muitas prioridades. O sistema produtivo e a construção civil terão de se adaptar para atender a essa faixa da população; o sistema previdenciário terá de prover aposentadorias a mais gente, por mais tempo; e o sistema de saúde terá de se reequipar para atender a mais doenças degenerativas do que doenças infecciosas, as que afetam as populações mais jovens.
O segundo problema a enfrentar no País,
também já comentado neste espaço, tem a ver com o impacto da revolução do
trabalho em curso sobre os esquemas de proteção social.
Não basta, como pretende o presidente Lula,
resolver o problema dos motoboys e entregadores. Inúmeras ocupações passaram a
operar com aplicativos. Podem ser desde manicures ou
encanadores de pequenos e médios empresários.
É uma faixa de trabalhadores que não contam com contribuição patronal para a
Previdência Social, não têm assegurados direitos mínimos de proteção e, em caso
de acidente ou de doença, aumentam as filas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em todo o mundo, as autoridades estão à
procura de uma legislação oportuna. Não haverá solução se o governo aderir
essas novas modalidades do trabalho na ultrapassada CLT.
O terceiro grande desafio macroeconômico pode
vir a ser, paradoxalmente, o grande ocasionador dos problemas anteriores.
Trata-se de definir as regras e os investimentos destinados à transição
ecológica, objetivo mais amplo do que seria uma transição apenas ambiental e
energética. O Estado terá de determinar as condições a serem atendidas pelos
trilhões de dólares que ficarão disponíveis, como o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, tem observado. Esses investimentos poderão não apenas se
tornar o novo pré-sal brasileiro mas, também, resolver outro problema crônico,
que é o da decadência até agora fatal da indústria de transformação. Falta o
conjunto de decisões que definirão as regras da geração eólica em alto - mar
(offshore), as novas linhas de transformação e as centrais de processamento de
hidrogênio verde e, também, o destino do carro elétrico (e das exportações de
veículos do Brasil) e o futuro dos biocombustíveis, incluído o do etanol.
O problema é que o governo Lula mostra mais
empenho em distribuir pacotinhos de bondade do que em buscar soluções certeiras
para estes desafios.
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