domingo, 5 de novembro de 2023

Celso Ming - Os três desafios

O Estado de S. Paulo

A política econômica do Brasil, seja qual for o governo da vez, terá de enfrentar três grandes problemas de longo prazo.

Não entra nesta lista a questão fiscal. O equilíbrio das contas públicas é pressuposto para o sucesso de qualquer política macroeconômica.

Um desses desafios já foi tratado aqui no dia 29. Trata-se de ajustar a economia aos tempos do rápido envelhecimento da população. O Brasil vai perdendo o chamado bônus demográfico, vai perdendo produtividade do trabalho em consequência do aumento de idade.

Esse imperativo demográfico muda muitas prioridades. O sistema produtivo e a construção civil terão de se adaptar para atender a essa faixa da população; o sistema previdenciário terá de prover aposentadorias a mais gente, por mais tempo; e o sistema de saúde terá de se reequipar para atender a mais doenças degenerativas do que doenças infecciosas, as que afetam as populações mais jovens.

O segundo problema a enfrentar no País, também já comentado neste espaço, tem a ver com o impacto da revolução do trabalho em curso sobre os esquemas de proteção social.

Não basta, como pretende o presidente Lula, resolver o problema dos motoboys e entregadores. Inúmeras ocupações passaram a operar com aplicativos. Podem ser desde manicures ou

encanadores de pequenos e médios empresários. É uma faixa de trabalhadores que não contam com contribuição patronal para a Previdência Social, não têm assegurados direitos mínimos de proteção e, em caso de acidente ou de doença, aumentam as filas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em todo o mundo, as autoridades estão à procura de uma legislação oportuna. Não haverá solução se o governo aderir essas novas modalidades do trabalho na ultrapassada CLT.

O terceiro grande desafio macroeconômico pode vir a ser, paradoxalmente, o grande ocasionador dos problemas anteriores. Trata-se de definir as regras e os investimentos destinados à transição ecológica, objetivo mais amplo do que seria uma transição apenas ambiental e energética. O Estado terá de determinar as condições a serem atendidas pelos trilhões de dólares que ficarão disponíveis, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem observado. Esses investimentos poderão não apenas se tornar o novo pré-sal brasileiro mas, também, resolver outro problema crônico, que é o da decadência até agora fatal da indústria de transformação. Falta o conjunto de decisões que definirão as regras da geração eólica em alto - mar (offshore), as novas linhas de transformação e as centrais de processamento de hidrogênio verde e, também, o destino do carro elétrico (e das exportações de veículos do Brasil) e o futuro dos biocombustíveis, incluído o do etanol.

O problema é que o governo Lula mostra mais empenho em distribuir pacotinhos de bondade do que em buscar soluções certeiras para estes desafios.

 

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