O Estado de S. Paulo
O pacote contra a violência no Rio é para valer, ou mera satisfação ao digníssimo público?
Juntou a fome com a vontade de comer, porque
nem o presidente Lula admitia decretar GLO para o Exército no Rio nem o
Exército queria GLO numa hora dessas. Foi assim que o pacote contra a violência
saiu, como antecipado aqui na coluna, em 26/10, com um típico jeitinho
brasileiro: as Forças Armadas entram na guerra contra milícias e organizações
criminosas, mas com limites, cautelas e, principalmente, um bom discurso de
marketing.
Escaldado pela tentativa de golpe de 8 de janeiro, que teve participação direta ou apoio subliminar de variadas patentes, Lula não quis naquele dia e continua sem querer ouvir falar de GLO, muito menos de militares subindo morros, de fuzis em punho, com tanques nas ruas. O erro dele, mais uma vez, foi falar demais e na hora errada sobre temas sensíveis e depois ser obrigado a recuar.
“Enquanto eu for presidente, não vai ter
GLO”, disse a jornalistas, cheio de autoridade. Cinco dias depois, o governo
anunciou... GLO no Rio, mas só para Marinha e Aeronáutica. Ao contrário de
dobrar a aposta, como fez contra o déficit zero e contra o próprio Fernando
Haddad, da Fazenda, Lula voltou atrás e liberou a GLO, mas não para o Exército.
Se o presidente era contra GLO, imaginem o
próprio Exército, com tantos militares na mira de STF, PF e CPMI, um general da
ativa considerado o pior ministro da Saúde da história, um tenente-coronel da
ativa metido em venda ilegal de joias no exterior, atestados falsos de vacina e
minutas de golpe de Estado.
E mais: armas de grande alcance indo parar na
bandidagem e a PF mirando em generais por desvios justamente durante a
intervenção na Segurança Pública no Rio sob comando de um general da ativa.
É hora de GLO de novo, logo no Rio?
Definitivamente não. Por isso, a GLO vale para a FAB atuar como polícia nos
aeroportos de Guarulhos e Galeão e a Marinha nos portos de Santos, Rio e
Itaguaí. O Exército fica bem longe, numa faixa de até 150 quilômetros nas
fronteiras de Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por onde entram e saem
drogas, armas, contrabando e criminosos. E com base na Lei Complementar 97, de
1999, não na GLO.
A expectativa para o pacote é baixa e a
avaliação é de que não passa de uma satisfação para a opinião pública. Mas o
governo Lula não tinha alternativa. Cruzar os braços? Fingir que não tem nada
acontecendo? Agora, é cuidar para não trazer a responsabilidade e a solução do
problema para Brasília, muito menos para dentro do Planalto. Segurança Pública
é atribuição dos Estados. O atual governador Cláudio Castro não pariu Matheus,
mas ele que o embale.
Um comentário:
Adoro dito popular.
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