Folha de S. Paulo
Centro político é o vitorioso nas eleições
para o Parlamento Europeu, mas direita radical obteve sucessos
O centro foi o grande vitorioso nas eleições para o Parlamento Europeu, mas a extrema direita obteve avanços importantes em vários países, notadamente a França. É difícil avaliar o alcance exato dessa votação. Eleições para o Parlamento Europeu costumavam ser uma ocasião privilegiada para o voto de protesto. Nelas, o eleitor podia mostrar sua insatisfação para com os governantes nacionais sem arriscar bagunçar muito a política local.
É um pouco com isso que conta o presidente
francês, Emmanuel
Macron, ao dissolver a
Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas antecipadas.
Seu cálculo é que, diante da perspectiva real de a extrema direita obter
maioria na Assembleia, os eleitores de esquerda, centro e da direita
republicana se mobilizarão para evitar tal desfecho. Foram "cordons
sanitaires" como esse que asseguraram as duas vitórias de Macron
contra Marine Le Pen nas
presidenciais.
Se vai funcionar de novo é outra questão.
Apesar de a extrema direita ter sido derrotada anteriormente, ela não deixou de
crescer na preferência do eleitorado e não há lei de ferro que a impeça de
triunfar no pleito de junho/julho. A jogada de Macron tem lógica, mas é
arriscada.
O avanço da extrema direita na Europa me
leva a duas constatações, uma mais tranquilizadora e outra bastante
inquietante. Pelo lado menos negativo, como já observou Adam
Przeworski, a direita radical da Europa Ocidental é de uma variante
menos tóxica do que suas congêneres das Américas e da Europa Central. É uma
direita nacionalista, anti-UE, anti-imigração e anti-Islã, mas que, ao
contrário de Trump, Bolsonaro e Orbán, não viola as regras básicas da
democracia.
Do lado mais preocupante, o crescimento
global da extrema direita está calcado no voto jovem. Nós fizemos algo de
bastante errado se não conseguimos convencer as novas gerações de que o pacto
liberal-democrático é algo em que vale a pena apostar.
Um comentário:
É que o jovem é rebelde por excelência.
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