Para manter a transgressão oculta, surgiu um místico ensinando como fazer: "Escreva o seu nome completo em um papel em branco. Anote os números que deseja jogar na loteria, e o coloque dentro de um copo de vidro. Depois, para acertar nos resultados, encha-o com um monte de feijão. Em seguida, coloque-o atrás da porta da sala".
A exploração da
ingenuidade das pessoas e da crendice popular teria se tornado um negócio
lucrativo para espertos e politicamente correto para outros. Não tem qualquer relação
com as projeções dos matemáticos Oswald de Souza e do romeno Stefan
Mandel, desconhecido no Brasil, que ganhou notoriedade por ter descoberto uma
maneira prática de ganhar na loteria. Ambos projetavam, probabilidades. Não foi
também o recurso aos algoritmos, aquela sequência finita de ações executáveis
na memória da computação e que espalham versões de fatos como
"deepfakes".
Mas, é curioso. Acabam de descobrir que há gente com pé na Operação Lava Jato que ganhou na loteria 640 vezes. Psicólogos não tratam isso como crimes, mas como uma doença. Faz parte do perfil de certos indivíduos, nos quais se reconhece uma dupla personalidade. Histórias de tentativas de manipulação dos resultados dos sorteios na Loteria devem se repetir semanalmente. Não se quer perder ou é um transtorno mental? É o que acontece também em tempos das eleições. O “anão do Orçamento" alegou que tinha a sorte do seu lado.
Richard Feynman, físico teórico, um dos pioneiros no campo da dinâmica quântica, classifica, por analogia, atitudes como essas de simples atos de "Estupidez: conhece-se a verdade, e ainda assim opta pela mentira. É tão doentio ser protagonista desse tipo de transgressão, quanto estúpido. Pior, é que, com o tempo, a mania tende a contaminar em definitivo o transgressor, tornando-o contumaz, e obcecado mesmo, um embusteiro.
O contagiado age em favor da mentira, passando tentar enganar a verdade. Sua esperteza ganhará admiração dos incapazes, mas, da sociedade, a pecha de imoral, a desconfiança e o descrédito. Precisaria ser retirado da convivência social, antes que a transgressão saia do submundo e ocupe espaços institucionais da sociedade. As eleições norte-americanas mostram que a vitória de Trump legitima a transgressão no espaço do Poder, como se tem visto por aí, independente das ideologias. É de assustar.
Por isso, inseguros em relação ao pleito e outubro deste ano, que sinalizará a tendência para as eleições presidenciais de 2026, no mundo da política, protagonistas de escândalos com desvios de dinheiro público não parecem confiar na decisão do STF de desqualificar a condenação dos envolvidos na Lava Jato, com contas bancárias em paraísos fiscais e bancos suíços. Foram crimes inesquecíveis cometidos com a conivência de empresários e até de bicheiros - que também não saem fácil do cenário - amplamente divulgados pela mídia e conhecidos dos cidadãos brasileiros. A descoberta da transgressão e de suas fontes produziu um belo carnaval na mídia e um apagão conveniente no seio do Estado, mas não na sociedade.
Diante do fato, já contaminando o aparelho de Estado, para se precaver de possíveis e novas acusações, personagens que poderão surgir ao longo da campanha eleitoral, que começa daqui a dois meses em todo o Brasil, tentou-se aprovar, dentro do Congresso Nacional, um tal Veto 46/21, ao PL-2.108 (2.462-91), que fazia renascer no Brasil um modelo cabuloso de Censura à opinião pública e à mídia, em nome do combate à notícias falsas que já vem sendo absorvidas como "depenes"- campanhas massivas de desinformação -, uma ameaça ao pleito de outubro, e à gestão da nova presidente do Superior Tribunal Eleitoral, ministra Carmem Lúcia .
O veto permitiria aos partidos políticos e, por conseguinte, seus membros - grandes atores no campo das transgressões -, mover ações contra os cidadãos que viessem a ser acusados de veicular informação ou emitir opiniões tidas, pelos referenciados, como falsas. Ignorava-se todo um arcabouço legal existente sobre o tema: Lei de Segurança Nacional, o Código dos Direitos Civis, Penal, Lei de Imprensa. A votação no Congresso parecia algo corporativo, pessoal e casuístico. À tempo, o arrastão promovido pelos interessados foi implodido no plenário do Congresso.
O conteúdo da Emenda 46 teve como fonte de inspiração o encaminhamento no STF, tentando desqualificar ritos processuais de crimes contra o Estado, identificados pela Operação Lava Jato e vivos na mente do povão e na História contemporânea do Brasil. "Há gente com medo do que vai aparecer nas eleições de outubro”, preconizou um analista político: "Incomodou! " Já há quem está, silenciosamente, recorrendo às simpatias; outros aos algoritmos.
Esse tipo de escalada estratégica começou com um grupo de países autoritários conhecidos. Nesses países, com o silenciamento da mídia, como se tentou com a Emenda 46, introduziram-se narrativas oficiais vacilantemente "deeps”, institucionalizada até mesmo nos altos escalões superiores do Estado. A transgressão não desiste: sua natureza é mesmo estúpida, leviana e doentia...
Um comentário:
Sei.
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