terça-feira, 11 de junho de 2024

Carlos Andreazza – Lula articulando amanhã

O Estado de S. Paulo

Se a ideia for se dedicar só às atividades institucionais da Presidência, menos desgastante será entregar logo o norte a Lira e Alcolumbre com seus arranjos informais

Ano e meio de governo – governo exausto e sem identidade – e ainda a conversa de articulação política insuficiente. O ministro articulador não fala com o presidente da Câmara. Mas a culpa é dos ministros cujos partidos nunca mentiram sobre não integrar a base de Lula.

Ano e meio de governo e, finalmente, o presidente da República vai a campo. Não houve derrotas. Nem erros. Mesmo assim, descerá ao chão. Será a terceira vez que promete. Nas outras, disse que iria e faltou. Ou foi e não resultou. Agora vai. Como se favor. Como se, até aqui, o governo – governo fraco – fosse de outro. De Rui Costa, sei lá. Agora vai. Vai?

Se a ideia for passar o tempo dedicado apenas às atividades institucionais da Presidência, menos desgastante será entregar logo o norte a Lira/Alcolumbre e deixar andar o arranjo informal. Bolsonaro o fez. A engenharia do parlamentarismo orçamentário está em operação; o motor do orçamento secreto jamais parou de girar. Chame Ciro Nogueira. Coloque-o no Planalto. E Lula poderá viajar costurando a paz mundial.

Planta-se – falam os seus aliados – que está sem paciência “para as rotinas e os rituais da política”. Um presidente sem saco para governar. E ainda dois anos e meio de mandato. A presença do homem “muda a capacidade de articulação”. Afirma Jaques Wagner. “Mas tem que dar o tempo”.

Um ano e meio – e ainda temos de lhe dar tempo. “Ele passou um ano e pouco preso”. Disse o senador ao Globo. “O cara tem alma. Não é de ferro”. Precisa de tempo. Para superar as dores. Sentado na cadeira de presidente de um país em depressão política faz mais de década. Por que concorreu?

 

Se para nos salvar do capeta, obrigado. E agora? Quase metade do país votou em Bolsonaro e não considera Lula herói de coisa alguma. Todos têm mágoas. Não nos faltam injustiçados. Qual a agenda? A visão de futuro? O 8 de janeiro permanente não enche pança. Se veio somente para nos salvar e pretende avançar cultivando uma eterna “saída da tormenta”, faltará chão até 26. Porque a maioria dos que o elegeram, acredite, não vive de Bolsonaro. Nem come PIB.

O presidente também está aflito porque os números da economia não se reverteram em popularidade. A planilha palaciana não bate com os preços da quitanda.

A vida está cara – e a agenda do governo é de aumento de carga. A vida é dura, as pessoas não acreditam na elite política – e o governo vem para transferir ao ferrado o custo da conta crescente do Estado. A vida está pesada, as pessoas têm medo – e o ministro da Justiça é Lewandowski, preocupado com o direito do preso à “saidinha”.

A vida desalma e as pessoas não têm tempo.

 

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