O Estado de S. Paulo
Se a ideia for se dedicar só às atividades
institucionais da Presidência, menos desgastante será entregar logo o norte a
Lira e Alcolumbre com seus arranjos informais
Ano e meio de governo – governo exausto e sem
identidade – e ainda a conversa de articulação política insuficiente. O ministro
articulador não fala com o presidente
da Câmara. Mas a culpa é dos ministros cujos partidos nunca mentiram sobre
não integrar a base de Lula.
Ano e meio de governo e, finalmente, o presidente da República vai a campo. Não houve derrotas.
Nem erros. Mesmo assim, descerá ao chão. Será a terceira vez que promete. Nas
outras, disse que iria e faltou. Ou foi e não resultou. Agora vai. Como se
favor. Como se, até aqui, o governo – governo fraco – fosse de outro. De Rui
Costa, sei lá. Agora vai. Vai?
Se a ideia for passar o tempo dedicado apenas às atividades institucionais da Presidência, menos desgastante será entregar logo o norte a Lira/Alcolumbre e deixar andar o arranjo informal. Bolsonaro o fez. A engenharia do parlamentarismo orçamentário está em operação; o motor do orçamento secreto jamais parou de girar. Chame Ciro Nogueira. Coloque-o no Planalto. E Lula poderá viajar costurando a paz mundial.
Planta-se – falam os seus aliados – que está
sem paciência “para as rotinas e os rituais da política”. Um presidente sem
saco para governar. E ainda dois anos e meio de mandato. A presença do homem
“muda a capacidade de articulação”. Afirma Jaques Wagner. “Mas tem que dar o
tempo”.
Um ano e meio – e ainda temos de lhe dar
tempo. “Ele passou um ano e pouco preso”. Disse o senador ao Globo. “O cara tem
alma. Não é de ferro”. Precisa de tempo. Para superar as dores. Sentado na
cadeira de presidente de um país em depressão política faz mais de década. Por
que concorreu?
Se para nos salvar do capeta, obrigado. E
agora? Quase metade do país votou em Bolsonaro e não considera Lula herói de
coisa alguma. Todos têm mágoas. Não nos faltam injustiçados. Qual a agenda? A
visão de futuro? O 8 de janeiro permanente não enche pança. Se veio somente
para nos salvar e pretende avançar cultivando uma eterna “saída da tormenta”,
faltará chão até 26. Porque a maioria dos que o elegeram, acredite, não vive de
Bolsonaro. Nem come PIB.
O presidente também está aflito porque os
números da economia não se reverteram em popularidade. A planilha palaciana não
bate com os preços da quitanda.
A vida está cara – e a agenda do governo é de
aumento de carga. A vida é dura, as pessoas não acreditam na elite política – e
o governo vem para transferir ao ferrado o custo da conta crescente do Estado.
A vida está pesada, as pessoas têm medo – e o ministro da Justiça é
Lewandowski, preocupado com o direito do preso à “saidinha”.
A vida desalma e as pessoas não têm tempo.
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