Folha de S. Paulo
Projeto que proíbe delação premiada favorece
os próprios políticos e o crime organizado
São dois caminhos, com rastros e obstáculos
diferentes, mas que têm em comum o ponto de chegada –Bolsonaro.
A Polícia Federal avança para concluir os inquéritos envolvendo o ex-presidente e encaminhar os relatórios à Procuradoria-Geral da República ainda neste mês ou em julho. Em agosto deverão terminar os casos de dois colaboradores diretos de Bolsonaro: Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça. Investigada pelo uso irregular do cartão corporativo da Presidência, Michele Bolsonaro por enquanto pode respirar: não está entre as prioridades.
Tornado inelegível, Bolsonaro é alvo de pelo
menos cinco investigações, entre as quais a da fraude no cartão de vacina
contra a Covid, a da venda e recompra de joias e presentes recebidos em viagens
oficiais (que teve a cooperação internacional do FBI), a das milícias digitais
(que se arrasta desde 2021) e a da tentativa de golpe de Estado. Esta, segundo
a PF, acumula um caminhão de provas. Caso a conclusão da PGR seja denunciar o
ex-presidente, o Supremo provavelmente só entrará em ação depois das eleições
municipais, para evitar qualquer tipo de influência.
A outra corrida é para salvar o capitão,
plano de voo já elaborado no Congresso com a participação de Arthur Lira,
que em troca faria seu sucessor no comando da Câmara. O relatório do projeto de
lei que trata da anistia aos condenados, muitos foragidos, pela insurreição
fascista de 8 de janeiro está nas mãos do deputado Rodrigo Valadares,
franco-atirador bolsonarista em primeiro mandato.
Entre os dois caminhos, abriu-se um atalho.
Lira desengavetou um projeto que proíbe a delação premiada de réus presos. Para
um Congresso que
tem um quinto dos deputados com pendências na Justiça criminal, é uma sopa no
mel. A corrupção empresarial e o crime organizado em narcomilícias também
agradecem.
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