O Globo
As pesquisas das eleições municipais mostram que Bolsonaro não é um bom cabo eleitoral, mas o PT também não tem o que comemorar
A uma semana da eleição, já se pode afirmar
que o ex-presidente Jair
Bolsonaro não se revelou um grande eleitor. Em São Paulo, caso
o candidato Ricardo Nunes vença,
a vitória será atribuída ao governador Tarcísio de
Freitas. Se ele perder, será debitado na conta de Bolsonaro, que não
defendeu a candidatura e viu parte do seu eleitorado migrar para Pablo Marçal.
No Rio, seu reduto eleitoral, o candidato apoiado pelo ex-presidente, Alexandre
Ramagem, subiu, mas está na reta final com 20% dos votos. Essa é a
visão do cientista político, Carlos Melo, do Insper. “Ele não sai dessa como
grande eleitor, ele sai fragilizado até porque se for mantida a
inelegibilidade, Bolsonaro não tem expectativa de poder.”
As pesquisas de ontem da Quaest mostraram que em Belo Horizonte, o candidato bolsonarista Bruno Engler cresceu, mas ainda está em segundo. No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado está com 11% numa eleição já decidida.
Outra constatação é que, ao contrário do que
se teve como verdade em 2018, a máquina importa, o tempo de televisão da
propaganda eleitoral e as inserções importam. É o que se pode constatar em
várias cidades, onde prefeitos estão na dianteira. “Reeleição foi feita para
reeleger. É difícil perder uma eleição estando no cargo. Veja Bolsonaro: com
todos os ataques às instituições e a má gestão da pandemia, ele quase ganhou”,
diz Melo.
O PT, não tem muito comemorar, na visão do
professor. “A esquerda é forte, tem 30% do eleitorado, mas o problema é que ela
tem piso alto e teto baixo, pelo nível de rejeição. A esquerda é muito
competitiva no primeiro turno, mas o antipetismo é forte, apesar de os reflexos
de casos como a Lava Jato ou os erros do governo Dilma estarem se dissipando”.
Carlos Melo nota outra mudança nesse processo
eleitoral: São Paulo não é mais tão determinante quanto já foi. “A cidade
continua sendo a joia da coroa, mas o que acontece na capital paulista não diz
sozinho o que houve na eleição.” Para saber quem ganhou a eleição será preciso
olhar para o que vai acontecer, por exemplo, com o PSD.
Durante muito tempo, o PMDB, mesmo não
disputando as eleições presidenciais era um partido determinante por ter mais
de mil prefeituras e, portanto, ter capilaridade. O ano de 2016 foi o último em
que chegou a esse número de vitórias. E esse lugar agora vai sendo ocupado pelo
PSD de Gilberto
Kassab. “Por isso o que eu vou fazer no domingo à noite é olhar o
desempenho do PSD.” Ele seria o novo MDB, mas com uma diferença: “pode ter
candidato à presidência”, diz o cientista político.
O quadro partidário se fragmentou no país, os
partidos ficaram menores, e o que cresceu muito nos últimos anos foi o PSD de
Kassab, em parte por desempenho eleitoral, em parte por cooptação. Um projeto
do secretário de governo de Tarcísio de Freitas foi o de atrair, com sucesso,
prefeitos no estado de São Paulo que foram eleitos pelo PSDB. “Ele vai se
construindo como um player importante”, considera Melo.
Outra curiosidade desta eleição é que o
Brasil vive neste ano o seu melhor momento na economia em mais de uma década: o
desemprego do último trimestre terminado em agosto foi o menor em 12 anos para
o período e com aumento da renda, na semana passada, o Banco Central
elevou a projeção de crescimento do PIB para 3,2% em 2024, e
a inflação ficou próxima de zero em agosto, dentro do intervalo da meta.
Apesar desse desempenho da economia, não há
candidato do PT competitivo em qualquer capital brasileira. É bem verdade que a
política de alianças fez o partido abrir mão de concorrer em cidades como o Rio
e em São Paulo. Mas em outras capitais onde houve candidatura própria não há
bom desempenho. Isso significa, segundo Carlos Melo, que a máxima de James
Carville não é mais absoluta. Não é apenas a economia. Mas ele lembra, contudo,
que se mantiver esse ritmo e tiver um crescimento de 10% acumulado em quatro
anos, Lula terá
o que mostrar nas eleições de 2026.
Para entender essa eleição todos têm olhado
para Pablo Marçal que, com sua agressividade, capturou a atenção. O problema é
que fora as difamações e truques conhecidos, ele não se sustenta. Ontem, no
debate da Folha/Uol, administrou bem o tempo, mas não soube o que fazer com os
minutos que economizou, por falta absoluta de ideias e propostas. “Se não for
para o segundo turno e ficar nos 20% talvez isso se dissipe. Mas ele marca um
jeito novo, ruim e perigoso de fazer política”, analisa Carlos Melo.
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