Folha de S. Paulo
A surpresa são eleitores do Rio, que dizem
'chega'
Atribuição dos governadores, a segurança pública se tornou literalmente a pauta-bomba das eleições. É citada como principal problema por moradores de 7 das 10 capitais mais populosas do país. Os candidatos a prefeito anunciam um mundo de paz, omitindo as limitações a que terão de se submeter. Eleitos, eles poderão ajudar, com as guardas municipais, na prevenção e proteção. Além de fazer o básico: conservação, limpeza e iluminação do patrimônio; instalação de vigilância tecnológica.
Mas quem fala em varrer praças e iluminar
ruas? O que atrai voto é discutir a ampliação do poder das guardas, armando-as.
Proposta capaz de realizar um milagre: unir direita e esquerda. Com quase todos
os candidatos a invocar o medo e prometer tropas de elite, provavelmente o
Brasil terá, não só nas grandes e médias cidades como nas povoações mais
remotas, esquinas com homens inquietos portando e apontando fuzis.
Para montar esse cenário de guerra civil,
sempre se consegue arranjar dinheiro. Com os governos federal e estadual, com
os parlamentares e empresários ou sabe-se lá com quem mais.
Número crescente a partir de 2019, primeiro
ano de Bolsonaro no Planalto, existem hoje no país 95 mil agentes de guardas
civis. Com a mudança radical que permitiu o uso de armamento pesado, age no
Congresso um lobby para transformá-las em polícias municipais, aumentando a
segurança jurídica das ações ostensivas —leia-se mortes.
Quem irá preparar as novas forças de combate,
se é que haverá tempo e vontade de preparação? Elas terão câmeras corporais?
Continuará em vigor a noção de atirar primeiro e perguntar depois, que fez
crescer a letalidade policial sobre os pobres? Como fica o "SUS da
Segurança Pública", do ministro Lewandowski?
Uma recente pesquisa Quaest perguntou a eleitores sobre o papel das guardas municipais no enfrentamento ao crime e se a corporação deveria trabalhar ou não armada. A maioria dos entrevistados de São Paulo, Belo Horizonte e Recife disse que sim. O Rio foi a surpresa. Moradores da cidade mais violenta do Brasil, segundo a percepção de todas as outras, dispensam os fuzis nervosos. É como se dissessem —chega!
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