terça-feira, 1 de outubro de 2024

Alvaro Costa e Silva - Guarda municipal armada

Folha de S. Paulo

A surpresa são eleitores do Rio, que dizem 'chega'

Atribuição dos governadores, a segurança pública se tornou literalmente a pauta-bomba das eleições. É citada como principal problema por moradores de 7 das 10 capitais mais populosas do país. Os candidatos a prefeito anunciam um mundo de paz, omitindo as limitações a que terão de se submeter. Eleitos, eles poderão ajudar, com as guardas municipais, na prevenção e proteção. Além de fazer o básico: conservação, limpeza e iluminação do patrimônio; instalação de vigilância tecnológica.

Mas quem fala em varrer praças e iluminar ruas? O que atrai voto é discutir a ampliação do poder das guardas, armando-as. Proposta capaz de realizar um milagre: unir direita e esquerda. Com quase todos os candidatos a invocar o medo e prometer tropas de elite, provavelmente o Brasil terá, não só nas grandes e médias cidades como nas povoações mais remotas, esquinas com homens inquietos portando e apontando fuzis.

Para montar esse cenário de guerra civil, sempre se consegue arranjar dinheiro. Com os governos federal e estadual, com os parlamentares e empresários ou sabe-se lá com quem mais.

Número crescente a partir de 2019, primeiro ano de Bolsonaro no Planalto, existem hoje no país 95 mil agentes de guardas civis. Com a mudança radical que permitiu o uso de armamento pesado, age no Congresso um lobby para transformá-las em polícias municipais, aumentando a segurança jurídica das ações ostensivas —leia-se mortes.

Quem irá preparar as novas forças de combate, se é que haverá tempo e vontade de preparação? Elas terão câmeras corporais? Continuará em vigor a noção de atirar primeiro e perguntar depois, que fez crescer a letalidade policial sobre os pobres? Como fica o "SUS da Segurança Pública", do ministro Lewandowski?

Uma recente pesquisa Quaest perguntou a eleitores sobre o papel das guardas municipais no enfrentamento ao crime e se a corporação deveria trabalhar ou não armada. A maioria dos entrevistados de São Paulo, Belo Horizonte e Recife disse que sim. O Rio foi a surpresa. Moradores da cidade mais violenta do Brasil, segundo a percepção de todas as outras, dispensam os fuzis nervosos. É como se dissessem —chega!

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