terça-feira, 1 de outubro de 2024

Hélio Schwartsman - O sobrevivente

Folha de S. Paulo

Netanyahu prolonga e amplia conflito para evitar responsabilização pelas falhas de segurança de seu governo

Não importa o que você pense de Binyamin Netanyahu, é preciso tirar o chapéu para sua capacidade de sobrevivência política. Nos dias que se seguiram ao ataque terrorista de 7 de outubro perpetrado pelo Hamas, a situação do premiê israelense parecia insustentável.

Se a democracia é o regime da responsabilização de dirigentes, as falhas de segurança sob seu governo eram grandes demais para ser ignoradas. O fracasso era duplo, operacional e na estratégia de como lidar com os palestinos.

As pesquisas de opinião em Israel corroboravam a sensação de que a carreira política de Netanyahu seria finalmente encerrada. Mas, como é sempre complicado fazer eleições e trocar o comando do país no meio de uma guerra, o acerto de contas teria de esperar o fim das ações militares em Gaza.

Sabendo disso, Netanyahu apostou em prolongá-las. Chegou a recusar um acordo de cessar-fogo que traria de volta os reféns e ajudaria Israel a normalizar relações diplomáticas com países árabes. Netanyahu jamais hesitou em pôr seus interesses pessoais à frente de quaisquer outras considerações.

Como não seria possível prolongar eternamente a guerra em Gaza, o premiê israelense decidiu agora ampliar o conflito. Resolveu que era hora de agir também contra o Hezbollah, que vinha lançando diariamente foguetes contra o norte de Israel.

É uma escolha de risco, já que pode lançar Israel numa guerra aberta contra o Irã, que financia tanto o grupo libanês como o palestino. Mas, até aqui, Teerã vem evitando um enfrentamento direto, o que vem sendo vendido em Israel como uma vitória.

A impopularidade de Netanyahu vai arrefecendo e, se não houver nenhum novo desastre para os israelenses, não dá para descartar que ele saia vencedor no próximo pleito, que precisa ocorrer até outubro de 2026.

O problema é que não existe solução militar para a disputa. Até dá para enfraquecer Hamas e Hezbollah, mas não para eliminá-los. Só haverá paz sustentável para os israelenses no âmbito de negociações com os palestinos. Para isso Netanyahu não tem nenhum plano.

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