domingo, 2 de fevereiro de 2025

Alcolumbre, Motta e as barbas de molho - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

No ‘novo Congresso’, economia, redes sociais, IA, segurança e militares. E paz entre Poderes?

Inversão no Congresso: Davi Alcolumbre será na presidência do Senado o que Arthur Lira foi na da Câmara e Hugo Motta será na da Câmara o que Rodrigo Pacheco foi na do Senado. Ou seja, Alcolumbre terá muita força e um poder muito maior para chantagear, ops!, negociar com o governo e Motta tende a ser mais cauteloso ao dar um passo tão grande na carreira política – tomara que não um passo maior que a perna. Mas Motta não estará sozinho. Foi apadrinhado por Lira e grande aliado de... Eduardo Cunha.

Alcolumbre (União BrasilAP) e Motta (RepublicanosPB) têm muitas diferenças, mas ambos fortalecem ainda mais o já tão poderoso Centrão e ambos estão embolados nas investigações do Supremo sobre desvios de emendas parlamentares esquisitonas. Logo, o Centrão está no comando, mas o ministro Flávio Dino está a postos e o fator emendas tende a dar limites à audácia do Congresso.

As relações entre Legislativo e Judiciário tendem a ficar, digamos, mais calmas. Nem Alcolumbre nem Motta têm interesse em tocar pautas como mandato, facilitação de impeachment e possibilidade de derrubada de decisões de ministros do STF. Além de pisar em ovos por causa das emendas, Alcolumbre é amigão de boa parte dos ministros e Motta precisa comer muito feijão para peitar o Supremo.

Com o Executivo, o presidente Lula precisa aprovar, finalmente, a segunda parte da regulamentação da reforma tributária e o ministro Fernando Haddad pode precisar muito do Congresso para um novo pacote de corte de gastos, mas não só.

Qualquer governo, em qualquer parte do mundo democrático, precisa do Congresso, mas quantos países têm emendas parlamentares de R$ 50 bilhões por ano, orçamento secreto e outras jabuticabas do gênero?

É improvável que as duas Casas do Congresso se dediquem num primeiro momento a aborto, drogas e anistia aos criminosos de 8 de janeiro e, em consequência, a Jair Bolsonaro. Depois? Depende do desempenho do governo, da popularidade de Lula, das relações entre Poderes e do jogo para 2026.

Outros temas fundamentais serão a regulamentação das redes sociais e da inteligência artificial, o pacote da Segurança Pública do ministro Ricardo Lewandowski e a limitação de militares em disputas políticas, que seria, ou será, o fecho de ouro do ministro José Múcio na Defesa, no ano do julgamento do golpe.

São três pautas centrais na ácida polarização do País, com o governo de um lado, o bolsonarismo do outro e o Centrão no comando. Se a eleição de Alcolumbre e Motta uniu do PL ao PT, agora vem o dia a dia da política, às vésperas das eleições gerais de 2026, com Lula no olho do furacão. O pau vai quebrar.

 

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