Folha de S. Paulo
Wall Street Journal diz que política
comercial trumpista é 'a mais burra da história'
"A guerra comercial mais burra da
história" era o título de um editorial do "Wall Street Journal"
(WSJ). Critica os aumentos do imposto de importação de Donald Trump sobre
produtos de Canadá, México e China.
O WSJ não é suspeito de ser antitrumpista.
Mas não bebe sopa fervendo de dólares rasgados. Tributar
importações a rodo não faz sentido prático, pragmático ou teórico para
quase ninguém. Mas é disso que se trata, de discussão econômica?
O programa de Trump suscita debates sobre aumento de ineficiências e de inflação, de alta de juros e do dólar, de prejuízos para o PIB de aliados. Anima ou requenta discussões sobre desglobalização comercial, que já são bem exageradas, porém.
As consequências podem ser essas, a depender
da profundidade, duração e extensão do que fizer Trump. Medidas similares, mas
não tão idiotas, vêm sendo adotadas por seguidos governos dos EUA. Um motivo de
fundo da reação é a ascensão da China.
As razões ou motivos de Trump, porém, parecem
ao menos em parte outros. Não derivam de lobby econômico amplo —ao contrário.
Trump diz que vai punir Canadá e México porque esses países não tomariam conta
da migração ilegal e do tráfico de drogas para os EUA. Não resolve nada, ocioso
explicar, enquanto houver trabalho para imigrantes e gente disposta a tomar
drogas, se por mais não fosse.
Atacar imigrantes, drogas, LGBTQIAP+, planos
de apoio a minorias em geral, "ideologia de gênero" e gente sem
religião, porém, rendeu votos. Também renderam votos os efeitos daninhos da
inflação e o nacionalismo desesperado de quem ficou para trás na sociedade,
ressentimento por ora premiado com afirmações imperiais e ataques à elite
tecnocrática e cultural.
Há indicadores de onde pode vir essa ira (não
razões justas). Cerca de 14,3% da população dos EUA é imigrante (naturalizada,
residente legal e ilegal), das maiores taxas da história (similar às do final
do século 19 e começo do 20). Em 1970, era 4,7%.
Em 2003, a taxa de mortes por overdose de
drogas era de 8,9 por 100 mil pessoas. Em 2023, 31,3 (105 mil mortos, fora a
subnotificação). A expectativa de vida parou de crescer por volta de 2015 e
caiu depois da epidemia. O emprego industrial desapareceu em regiões inteiras,
faz tempo. A inflação sob Joe Biden foi a mais alta em 40 anos; até meados de
2023, o salário médio não havia recuperado as perdas inflacionárias da
epidemia.
Há motivos de mal-estar e objetos visíveis
para quem queira odiar. No mínimo, foram o bastante para que mais de metade do
eleitorado escolhesse quem estimula ignorância e delírio social a respeito
dessas questões: Trump.
Claro que Trump agrega interesses econômicos
como as megaempresas, "big techs" entre elas, amigas da
desregulamentação global, de menos impostos e de ataques a acordos
internacionais a quem queira limitar o poder delas.
Porém, delirante ou não, Trump não está
falando de economia, até agora. Está fornecendo circo imperial, pão virtual
para ressentidos ou desgraçados e tentando dar cabo da ideia de República, nos
EUA e alhures. Talvez as medidas econômicas de Trump não façam sentido porque
não tratem disso, de economia.
Sim, faz tempo que se fala de guerra ou
revolução cultural, de virada à direita. Trump 2 está levando isso para outro
nível, para mais fundo, muito mais do que Trump 1.
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