Ubiratan Brasil / Valor Econômico
Oscar 2025 termina em festa para "Ainda Estou Aqui" e "Anora"
O clima de final de Copa do Mundo em torno do
longa "Ainda Estou Aqui" se
transformou em festa verdadeira com a vitória no Oscar de Melhor Filme Internacional, na
noite desde domingo. Primeira produção brasileira a
ganhar esse prêmio, "Ainda Estou Aqui" conquistou aos
poucos a admiração de americanos e europeus. Isso porque é uma história
universal liderada por Fernanda
Torres no papel de Eunice Paiva, a mulher que teve de assumir o
controle da família após o assassinato de seu marido, o deputado Rubens Paiva, pelo governo
militar, nos anos 1970. No Brasil, já foi visto por mais de 5 milhões de
pessoas e é apontado como um forte incentivador da volta do público ao cinema
para ver produções nacionais. O longa é um drama simples, universal e, mesmo
contando uma história do Brasil, reverbera em uma audiência de qualquer
nacionalidade.
"Isso vai para uma mulher que - após uma perda sofrida durante um regime autoritário - decidiu não se curvar e resistir”, disse o diretor Walter Salles no palco, ao receber a estatueta de Penélope Cruz. Ele também dedicou a estatueta às atrizes Fernanda Torres (que perdeu o Oscar de melhor atriz para Mikey Madison, de "Anora") e Fernanda Montenegro, que vivem Eunice em tempos distintos.
Muito aplaudido na sala de imprensa, Salles
disse que, ao começar a produzir o filme, sabia que contaria uma história que
merecia ser contada. "Tivemos a proteção de Eunice Paiva", disse o
cineasta. "É um filme sobre como lidar com a perda e como lutar contra a
injustiça."
O grande vencedor da noite, pela qualidade
dos prêmios, foi "Anora",
eleito o melhor filme do ano, além de diretor (Sean Baker), atriz (Mikey Madison), roteiro
original e edição. "Minha mãe me levou ao cinema quando eu tinha 5 anos e
hoje é aniversário dela", festejou Baker. "“Cineastas, continuem
fazendo filmes para a tela grande. Distribuidores, por favor, foquem no
lançamento dos filmes nos cinemas. Pais levem seus filhos ao cinema. Vamos
manter viva a experiência de ir ao cinema.”
E Adrien Brody conquistou seu segundo Oscar de melhor ator, agora por "O Brutalista". Foi o marco de uma revitalização de carreira, depois que emendou papéis desinteressantes após ganhar a mesma estatueta por "O Pianista", em 2002.
O show do Oscar começou com a esperada
homenagem a Los Angeles, cidade que foi castigada por diversos incêndios no
início do ano. Depois de um clipe com imagens de filmes antigos, Ariana Grande cantou o
clássico "Somewhere Over the Raibow", do filme Magico de Oz. Em
seguida, ela se juntou a Cynthia
Erivo, sua colega em "Wicked" para interpretar o grande sucesso do
filme, “Defying Gravity”.
O humor começou a chegada do apresentador, o
comediante Conan O'Brien,
que simulou uma saída do corpo de Demi
Moore, ironizando "A
Substância". Depois de alfinetar a espanhola Karla Sofía Gascón, de
"Emilia Pérez",
ele reforçou a homenagem às pessoas desconhecidas que sustentam a indústria
cinematográfica, reconhecendo que seu desempenho constitui grande parte de Los
Angeles. Suas palavras finais sobre a importância do Oscar durante uma época de
política divisiva e incêndios florestais devastadores também provocaram alegria
na multidão.
Finalmente, o primeiro prêmio e justamente o mais previsível: Kieran Culkin venceu como ator coadjuvante. Em seu discurso de agradecimento, ele chamou diretor de "A Verdadeira Dor", Jesse Eisenberg, de “gênio”. “Nunca falaria isso na sua frente”, brincou. Também pediu de forma um tanto esquisita à esposa para ter mais filhos com ele.
Em seguida, a primeira surpresa: apesar de
favorito, "O Robô
Selvagem" perdeu o Oscar de animação para o pequeno e
singelo filme letão "Flow".
Com baixo orçamento, o diretor Gints
Zilbalodis usou um software gratuito para concluir a
animação. E, no seu discurso, agradeceu seus gatos e cães porque os observou
atentamente para criar seus personagens. Também compartilhou uma mensagem de
união. “Estamos todos no mesmo barco. Devemos superar nossas diferenças e
encontrar maneiras de trabalhar juntos.”
A emoção continuou quando Paul Tazewell fez um
emocionado discurso ao receber o Oscar de figurino por "Wicked". "Sou o
primeiro negro a vencer nessa categoria", disse, emocionado, levantando a
plateia no aplauso.
“Anora”
ganhou o prêmio de melhor roteiro original, conquistando o primeiro Oscar para
o diretor Sean
Baker. Durante seu discurso, Baker agradeceu à comunidade de
profissionais do sexo. “Eles compartilharam suas experiências de vida comigo ao
longo dos anos”, disse ele. “Meu mais profundo respeito - compartilho isso com
vocês.”
O filme colecionou outro prêmio - também para
Baker - com o Oscar de edição. “Eu realmente aprecio o reconhecimento por isso
porque, Deus, se você viu aquela filmagem... Eu salvei este filme na edição -
acreditem em mim”, ele disse, aos risos. “Eu considero a edição metade da minha
direção e um terço do meu roteiro.”
E ainda foi eleito o melhor diretor. Há muito
tempo queridinho em Hollywood por seu cinema indie, Baker finalmente é
homenageado por seu trabalho - e por sua luta contínua por lançamentos dos
filmes nos cinemas.
A disputa com "Conclave" continuou ainda
na premiação de roteiro, dessa vez o adaptado. Peter Straughan segue bem de perto o texto
original de Robert Harris sobre os bastidores de uma eleição papal. Mais do que
isso, foi capaz de acrescentar novas camadas ao trabalho concebido pelo
escritor inglês, merecendo o Oscar.
A fervura da festa veio com a premiação
de Zoe Saldaña como
melhor atriz coadjuvante por "Emilia
Perez". A vitória no Globo de Ouro prometia uma campanha
tranquila, mas as postagens ofensivas nas redes sociais da estrela do
filme, Karla Sofía Gascón,
fez com que as chances do filme desabassem. Mas não as dela. “Sou uma
descendente orgulhosa de pais imigrantes. Minha avó, se estivesse aqui, estaria
tão feliz”, disse ela, com palavras raivosas.
O filme francês conseguiu outro prêmio
considerado favorito, melhor canção original, para "El Mal". O melhor, no
entanto, foi a apresentação de Mick Jagger. “Estou muito honrado”, disse ele,
antes de brincar ao dizer que a produção queria que Bob Dylan entregasse o
prêmio.
O tom político voltou a tomar conta do palco do Dolby Theatre quando "No Other Land" foi anunciado como melhor documentário. Produção israelense-palestino sobre o governo israelense forçando os palestinos a saírem de suas casas em Masafer Yatta causa um mal estar no espectador. “Você não consegue ver que estamos interligados? Existe outra maneira”, disse um dos diretores, Yuval Abraham.
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