O Estado de S. Paulo
Nomear Gleisi para a Secretaria de Relações Institucionais é sinal de que Lula está sem prumo e sem rumo
Uma das manifestações mais marcantes do
carnaval pernambucano são os bonecos gigantes de Olinda. Embora existam
registros de que o primeiro boneco, chamado “Zé Pereira”, tenha aparecido em
1919 na cidade sertaneja de Belém do São Francisco, foi nas ladeiras estreitas
da cidade alta de Olinda que eles se popularizaram, especialmente a partir do
“Homem da Meia-Noite”. Esse boneco icônico abre o carnaval de Olinda à
meia-noite de sexta-feira desde 1931.
Com até quatro metros de altura e cerca de 50 quilos, esses bonecos têm cabeça e corpo fixos. O que encanta o público é a forma como rodopiam seus braços compridos de tecido e balançam mãos mais pesadas nas pontas, parecendo meio perdidos e inebriados pelo som rasgado e entoado pelas orquestras de frevo.
Tanto o presidente Lula quanto o
ex-presidente Bolsonaro já tiveram suas versões gigantes desfilando em Olinda.
Porém, desde o carnaval de 2023, esses bonecos foram aposentados em meio à
polarização política, que ameaçava o clima de brincadeira e irreverência típico
da festa.
Apesar de não ter mais seu boneco nas
ladeiras, Lula continua se comportando de modo “desajeitado”, como um boneco
gigante, ao tentar montar e gerenciar sua ampla coalizão de governo. Suas
escolhas dão a impressão de que está tão perdido quanto um boneco rodopiando
sem prumo e sem rumo pelos corredores do palácio.
Montou uma coalizão gigante, com 16
agremiações partidárias de ideologias bem diferentes, mas tem concentrado poder
e recursos principalmente em seu próprio partido. Com isso, a maioria numérica
não se converte em uma atuação coesa e disciplinada por parte dos aliados.
A reforma ministerial, por enquanto, não
passou de uma troca de “seis por meia dúzia”, que não alterou de fato a
distribuição de ministérios. Além disso, a escolha da deputada Gleisi Hoffmann
(PT-PR) para a Secretaria de Relações Institucionais revelou a preocupação do
governo com a sua crescente fragilidade política.
Gleisi é conhecida por sua postura combativa
e por enfrentar adversários (e até aliados) em disputas intensas. Embora isso
mostre garra, ela também carrega a fama de não lidar bem com divergências –
algo complicado numa função que exige negociação e diálogo.
Nomeá-la para esse posto, justamente no
momento em que Lula vê sua popularidade cair e a rejeição a seu governo
aumentar, é um sinal claro de que o governo se sente vulnerável. Se Lula
estivesse seguro, confiante e dormindo tranquilo, não teria colocado o seu “cão
de guarda” para cuidar da articulação política na antessala de seu gabinete.
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