terça-feira, 9 de setembro de 2025

Amotinados continuam numa boa. Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Levante de 6 de agosto no Congresso completa um mês relegado a conveniente esquecimento

No sábado (6) fez um mês da violenta ocupação do plenário da Câmara com grave ameaça a Hugo Motta (Republicanos-PB) de interdição no seu trajeto rumo à cadeira da presidência da Casa.

Outro mês ainda vai transcorrer até completarem-se os 60 dias que generosamente o presidente afrontado deu à corregedoria para definir punição aos amotinados.

A julgar pelo silêncio em torno do caso e da vitória que obtiveram ao conseguir colocar a anistia na agenda, nada de mal lhes acontecerá. O episódio está com todo o jeito de que vai ficar por isso mesmo: o dito pelo não dito, os considerados agressivos naquele dia pelos reabilitados no transcurso do tempo.

No calor da rebelião, vozes se levantaram em defesa da necessidade de não se deixar barato, sob pena da erosão de autoridade do deputado Motta. Esfriada a temperatura, calaram-se todos. Os que são instados a se manifestar alegam que há outras sanções mais importantes com as quais o país deve se preocupar.

Cobram atenção às "injustiças" do Supremo Tribunal Federal contra executores, patrocinadores e incentivadores da tentativa de anular o resultado das eleições de 2022. Dizem que há mais infratores a serem punidos que os rebelados de 6 de agosto, por esta interpretação tidos como vítimas autorizadas a se utilizar de quaisquer meios para reagir.

Trata-se de uma versão convenientemente distorcida do ocorrido nas ocupações dos plenários da Câmara e do Senado. Ali houve tentativa de golpe parlamentar com execução explícita de atos não apenas preparatórios, mas efetivamente executados.

A ideia era mostrar ao presidente da Câmara eleito meses antes que havia na Casa uma força que se sobrepunha às regras do regimento e aos parâmetros do decoro parlamentar. A falta de uma reação imediata e rigorosa exibiu a fragilidade de Hugo Motta frente aos compromissos assumidos com governo e oposição para ser ungido ao comando.

Depende agora dele e da banda sadia do colegiado escolher de que lado estão: do malfeito ou do que deve ser bem feito.

 

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