O Estado de S. Paulo
Tarcísio de Freitas, pragmático tocador de
obras, mostrou do que é capaz. Que fará de tudo para ser o candidato da direita
em 2026. Quer muito. E alcançou o ponto de não retorno por essa querença.
Topa qualquer coisa. Esse é o destaque da
manifestação de domingo. Auge de jornada que começara, menos de semana antes,
com o governador de São Paulo declarando não confiar na Justiça – e se
comprometendo, como primeiro ato, a indultar Bolsonaro, caso fosse presidente.
Tarcísio, um prático, acelerou. Não está – né, Ciro Nogueira? – sozinho. Tinha uma missão, meta combinada, obra a entregar – e a entregou. Maior ou menor o grau de encenação teatral, maior ou menor a crença na viabilidade da anistia, mexeu-se. Cumpriu etapas na “expectativa Malafaia”. Falou o nome de Alexandre de Moraes, associou-o à ditadura etc. Ganhou estrelinha no caderno.
Que ele não acredite haver, com isso, saciado
o bolsonarismo raiz, do qual terá – no máximo – levado uma trégua. E que você
não o tenha, por isso, na conta de tipo diferente... A peleja, mais ou menos
fria, não se dá entre comedidos.
O cronista considera extravagante a discussão
sobre se Tarcísio seria um moderado. Foi ministro de Bolsonaro até 2022, palco
de que sairia porque escolhido-promovido para concorrer ao segundo cargo mais
importante em disputa. É bolsonarista, caráter sob o qual moderação será
somente recurso estratégico.
Ante a prisão domiciliar de Jair e depois de
visitá-lo, o moderado tático botou o bloco na rua. Mexeu-se e fez mexer. Liberdade
para o inelegível! Liberdade com inelegibilidade – esse é o programa do grupo
que encarna. Tarcísio, que estava em posição passiva, esperando pela bênção do
padrinho, começou esta semana como líder de um projeto de superação do
ex-chefe.
Sem constrangimento, fez pregação de
Bolsonaro, defendeu a elegibilidade de Bolsonaro e se projetou para, ausente
Bolsonaro, ser o seu herdeiro eleitoral. Trabalha pela ausência de Bolsonaro.
Todos trabalham com a ausência de Bolsonaro.
Estamos no pós-Bolsonaro. No pós-Bolsonaro eleitoral. O bolsonarismo que
confronta Moraes publicamente está também em confronto interno indiscreto.
Briga por controle. Por quem encabeçará o bolsonarismo sem Bolsonaro.
Contenda que, presentes ou não os corpos,
subiu no carro de som e em decorrência da qual se orientaram os discursos: o
bolsonarismo sem Bolsonaro de Tarcísio, o bolsonarismo de resultados, versus o
bolsonarismo sem Bolsonaro de Eduardo, o bolsonarismo puro-sangue. Todos
cientes de que Jair não concorrerá em 26; todos bradando por que ele esteja nas
urnas; todos se organizando a partir da sua inelegibilidade.
Essa é a grande conquista estabelecida pelo
movimento do governador. Bolsonaro ainda nem condenado e a agenda da anistia –
logo, a própria direita brasileira – ajeitando o corpo em função de eleição; em
função de Tarcísio de Freitas, o pauteiro, candidato sem precisar se anunciar.
•
Nenhum comentário:
Postar um comentário