terça-feira, 9 de setembro de 2025

Bolsonarismo de resultados. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Tarcísio de Freitas, pragmático tocador de obras, mostrou do que é capaz. Que fará de tudo para ser o candidato da direita em 2026. Quer muito. E alcançou o ponto de não retorno por essa querença.

Topa qualquer coisa. Esse é o destaque da manifestação de domingo. Auge de jornada que começara, menos de semana antes, com o governador de São Paulo declarando não confiar na Justiça – e se comprometendo, como primeiro ato, a indultar Bolsonaro, caso fosse presidente.

Tarcísio, um prático, acelerou. Não está – né, Ciro Nogueira? – sozinho. Tinha uma missão, meta combinada, obra a entregar – e a entregou. Maior ou menor o grau de encenação teatral, maior ou menor a crença na viabilidade da anistia, mexeu-se. Cumpriu etapas na “expectativa Malafaia”. Falou o nome de Alexandre de Moraes, associou-o à ditadura etc. Ganhou estrelinha no caderno.

Que ele não acredite haver, com isso, saciado o bolsonarismo raiz, do qual terá – no máximo – levado uma trégua. E que você não o tenha, por isso, na conta de tipo diferente... A peleja, mais ou menos fria, não se dá entre comedidos.

O cronista considera extravagante a discussão sobre se Tarcísio seria um moderado. Foi ministro de Bolsonaro até 2022, palco de que sairia porque escolhido-promovido para concorrer ao segundo cargo mais importante em disputa. É bolsonarista, caráter sob o qual moderação será somente recurso estratégico.

Ante a prisão domiciliar de Jair e depois de visitá-lo, o moderado tático botou o bloco na rua. Mexeu-se e fez mexer. Liberdade para o inelegível! Liberdade com inelegibilidade – esse é o programa do grupo que encarna. Tarcísio, que estava em posição passiva, esperando pela bênção do padrinho, começou esta semana como líder de um projeto de superação do ex-chefe.

Sem constrangimento, fez pregação de Bolsonaro, defendeu a elegibilidade de Bolsonaro e se projetou para, ausente Bolsonaro, ser o seu herdeiro eleitoral. Trabalha pela ausência de Bolsonaro.

Todos trabalham com a ausência de Bolsonaro. Estamos no pós-Bolsonaro. No pós-Bolsonaro eleitoral. O bolsonarismo que confronta Moraes publicamente está também em confronto interno indiscreto. Briga por controle. Por quem encabeçará o bolsonarismo sem Bolsonaro.

Contenda que, presentes ou não os corpos, subiu no carro de som e em decorrência da qual se orientaram os discursos: o bolsonarismo sem Bolsonaro de Tarcísio, o bolsonarismo de resultados, versus o bolsonarismo sem Bolsonaro de Eduardo, o bolsonarismo puro-sangue. Todos cientes de que Jair não concorrerá em 26; todos bradando por que ele esteja nas urnas; todos se organizando a partir da sua inelegibilidade.

Essa é a grande conquista estabelecida pelo movimento do governador. Bolsonaro ainda nem condenado e a agenda da anistia – logo, a própria direita brasileira – ajeitando o corpo em função de eleição; em função de Tarcísio de Freitas, o pauteiro, candidato sem precisar se anunciar. •

 

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