domingo, 2 de novembro de 2025

Novos ventos (e mortos) na política, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Direita avança sem Bolsonaro, ameaça pauta do governo e põe favoritismo de Lula em xeque

Com as 121 mortes na operação policial do Rio, acusada de chacina pela esquerda, aplaudida pela direita e, segundo as pesquisas, apoiada pela sociedade, a oposição se realinhou e ganhou novo ânimo e nova bandeira para superar a dependência de Jair Bolsonaro e enfrentar o favoritismo de Lula para 2026. O ambiente político, já tão instável, sofreu mais um solavanco.

Lula, que vinha deslizando na pista eleitoral praticamente como candidato único, deve se preparar para fortes obstáculos no Congresso, onde não se fala mais de anistia ou dosimetria para Bolsonaro, mas a pauta saiu da economia, prioritária para o governo, e desabou na segurança, solo fértil para a direita.

Lula está no palanque, mas pode terminar 2025 com a derrota acachapante da PEC da Segurança no Congresso e entrar no ano eleitoral enfrentando a CPI das organizações criminosas, comandada pela oposição e focada em martelar que a esquerda “defende bandido”, é “contra a polícia” e “conivente com o tráfico”. Esquecendo, aliás, que os Bolsonaro deram a principal comenda da Alerj a um miliciano preso e depois morto pela polícia.

Segundo o ministro Ricardo Lewandowski, o ponto central da PEC é dar maior cobertura legal para a atuação federal contra o crime organizado e garantir o compartilhamento de informações e o esforço conjunto de União, Estados e municípios.

Não é essa, porém, a percepção dos governadores de oposição nem do próprio relator da PEC na Câmara, deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE).

Para ele, a proposta concentra o comando da Segurança Pública em Brasília e precisa de “mudanças profundas”. Com essa posição do relator, uma base precária, o centrão dando as cartas, a direita e boa parte da sociedade querendo sangue, a PEC tende a virar do avesso. Do outro lado, o governo parece tonto, sem saber o que dizer e como reagir.

Na CPI, que vai correr em paralelo, o que menos interessa é que a escalada espantosa da violência é uma derrota de décadas, da direita e da esquerda e dos governos, um atrás do outro. Os únicos vitoriosos são o PCC, o CV e seus filhotes. A verdade, porem, não importa. CPIs sempre miram no governo de plantão, principalmente, se ele está em vantagem para a eleição seguinte.

Os governadores que aplaudiram Cláudio Castro e a centena de mortes no Rio criaram um consórcio que pode ser tudo, menos “da paz”, e serão decisivos para os rumos da PEC, da CPI e da eleição. E o governo? Está às voltas com um dilema: como compatibilizar o discurso histórico de Lula e do PT com a posição majoritária do eleitorado na prioritária e explosiva área da segurança pública?

 

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